O primeiro grande teórico do futebol foi Adam Smith, técnico do Liberal Esporte Clube. Um século depois surgiu K. Henrich Marx, que dirigiu o Grêmio Recreativo Das Kapital. Por fim, houve o caso de Mikhail Bakunin, jogador do Dínamo de Premikhimo. Mas houve um técnico melhor que todos eles. Quem é ele e qual seu segredo?
Desde o início dos tempos a humanidade se faz três perguntas:
O que existe depois da morte?
Qual o sentido da vida?
E qual o melhor esquema no futebol?
São três perguntas que estão presentes nas estantes das bibliotecas e nas mesas dos bares.
Para as duas primeiras, eu responderia simplesmente “nada e nenhum”. Mas a terceira questão é bem mais complexa. Esta, sim, exige raciocínio, debate e conhecimentos filosóficos.,....
O primeiro grande teórico do futebol foi Adam Smith, técnico do Liberal Esporte Clube, time escocês da pequena cidade de Kirkcaldy. Smith acreditava que os jogadores só dariam o máximo de si se fossem movidos pelo próprio interesse. Assim, sua equipe cultivava o individualismo ao extremo, com muitos dribles e poucos passes.
Um século depois surgiu outro importante filósofo ludopédico: K. Henrich Marx, que dirigiu o Grêmio Recreativo Das Kapital, time alemão que privilegiava o jogo coletivo, com um sólido planejamento central, feito pelo técnico no vestiário. O Das Kapital criou um novo conceito de futebol, com uma interessante filosofia de conjunto.
Por fim, houve o caso de Mikhail Bakunin, jogador do Dínamo de Premikhimo, que dizia que o melhor era que não houvesse técnico e que cada atleta um fizesse o quisesse, mas sempre pensando no time. A equipe deveria ser como um organismo vivo, feito a partir da liberdade de seus jogadores. Infelizmente as experiências com times que seguiam a tese de Bakunin não duraram muito, e assim ainda não podemos saber como seria sua equipe na prática.
Pois bem, nenhum desses esquemas deu muito certo até hoje. O de Adam privilegia demais o individualismo, o de Henrich engessa as habilidades individuais, e o de Mikhail é tão complexo que ainda não conseguiu ser testado.
Mas há um técnico que conseguiu unir o melhor destes três esquemas. Um técnico que finalmente amalgamou o melhor das três grandes teorias. Quem é este gênio? O senhor Josep Guardiola i Sala.
Sim, revolucionários leitores, Pep Guardiola, o técnico do Barcelona, conseguiu unir as três grandes filosofias ludopédicas.
Quereis provas? É só ver um jogo da equipe catalã. Ali você terá belos avanços individuais, cheios de dribles desconcertantes, terá um jogo coletivo, repleto de passes inteligentes, e perceberá que os jogadores têm a liberdade para criar novas jogadas a partir das circunstâncias, com a equipe atuando como se fosse um organismo vivo.
Mas Pep não inventou sua teoria do nada. Assim como os grandes filósofos, ele teve antecessores. Antes dele, no Barcelona passaram Johan Cruyff, Bobby Robson, Van Gaal e Frank Rijkaard, que foram dando a base da filosofia atual.
Para os que pensam que o time apenas joga bonito (como se jogar bonito fosse “apenas” um detalhe), eis o que o clube ganhou este ano: Campeonato Espanhol, Copa da Espanha, Copa dos Campeões e Supercopa da Europa. Ou seja, tudo que disputou.
Pep Guardiola conseguiu unir talento individual, organização coletiva e liberdade. Beleza e eficiência. Solidariedade e prazer. É meu candidato ao Nobel de economia.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
No Carta Maior
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