Pegue um grande jornal: estão parecidíssimos, com aquela aparência típica do trabalho do estúdio espanhol que desenhou todos eles. Se o caro colega não tiver cuidado, pode perfeitamente comprar o jornal errado na banca.
Não vai fazer muita diferença: os textos também andam parecidíssimos. Um exemplo: três cavalheiros estavam assaltando um supermercado em São Paulo, armadíssimos. Tiveram uma divergência lá dentro, dois mataram o terceiro. Com a confusão, chegou a Polícia e no tiroteio morreu outro assaltante. Em toda a imprensa, os referidos cavalheiros foram tratados como "suspeitos". E, naturalmente, um dos baleados morreu num dos lugares mais perigosos do país: "a caminho do hospital". Mais perigoso do que este só a entrada do hospital (que, pelo menos, deixou de ser chamado de "nosocômio"): basta acompanhar o noticiário e ver a quantidade de "suspeitos" que morrem "ao dar entrada" no hospital. .l...
Há ainda diferenças suficientes para que os leitores prefiram um jornal ao outro: a seleção de matérias na primeira página pode ser melhor ou pior, os colunistas atendem a faixas específicas de público, mas tudo muito discreto. Surpresas - como aquelas do Jornal do Brasil, ou doJornal da Tarde - estas desapareceram das bancas. Quem traz surpresas interessantes, em São Paulo, é um jornal de distribuição exclusiva para comerciantes, o Diário do Comércio, da Associação Comercial; mas este não está nas bancas. Quem também traz surpresas é o Brasil 247, para Ipad, também acessível por computador: ali a busca da notícia exclusiva é uma obsessão. Mas também é um jornal que não está nas bancas.
TV, rádio? O noticiário de Política se confundiu com o de Polícia (em parte por culpa de nossos políticos, boa parte dos quais adora se envolver em casos criminais); mas também por culpa da não-cobertura de assuntos especificamente políticos, frequentemente substituída pela incessante repetição de preconceitos. Um bom caso é o da fundação do PSD: os meios de comunicação cansaram de noticiar que o partido não iria em frente, que não havia tempo, que havia irregularidades absolutamente incontornáveis. O partido surgiu, foi devidamente aprovado pela Justiça (cadê as irregularidades?), é o terceiro na Câmara e, de repente, o noticiário notou que havia um novo fator a ser levado em conta na cobertura política, quando voltar a ocorrer cobertura política.
Surpresas na TV? Faz tempo que isso não ocorre: a surpresa foi substituída por gracinhas - até no futebol! As imagens são aceleradas, tirando totalmente a noção do que houve; e o jogo é substituído com frequência por takes de torcedores esquisitos, com mensagens bobinhas para os astros da transmissão.
Não é por nada, não: será que alguém disposto a oferecer uma visão do que está ocorrendo, que não seja igualzinha à que os outros oferecem, não terá uma oportunidade maior de fixar-se no mercado?
taogomes. com
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