O mantra da vez de uma certa parcela da esquerda conservadora e tradicional é que os jovens que estão nas ruas do mundo inteiro organizando protestos, ocupando praças, derrubando ditaduras e questionando o sistema financeiro estão perdidos. Não têm proposta e não sabem para onde levar seus movimentos.
São os mesmos que diziam há algum tempo que a juventude de hoje era individualista, não se mobilizava, não ia às ruas e que só estava preocupada em consumir.
É impressionante a capacidade de análise política desses setores. E é mais impressionante ainda como esse discurso se reproduz geração após geração.
Os jovens de ontem que se filiam a essas correntes tradicionais, acabam reproduzindo os mesmos discursos que os jovens de anteontem utilizaram contra eles. É o tal do avesso, do avesso, do avesso. Ou seja, vai pra cá e para lá, mas se acaba voltando para o mesmo lado.....
Há algo novo acontecendo na prática política internacional e que vem sendo gestado desde 1999, quando aconteceu a Batalha de Seattle. É um movimento que escapa à lógica dos líderes tradicionais, porque de alguma forma em muitas partes do mundo os partidos supostamente à esquerda se tornaram fiéis escudeiros da manutenção do status quo.
Ou há grande diferença entre Democratas e Republicanos nos EUA? Ou o governo de Zapatero, do Partido Socialista Espanhol, implementou uma agenda pactuada com os movimentos sociais do país? Ou se na França o PS vier a derrotar Sarkozy o país vai romper com a política internacional dos EUA? Ou a oposição a Berlusconi é algo, por assim dizer, animadora?
Sem contar o que aconteceu na Grécia, que está implementando uma agenda ultra-liberal, sendo que o primeiro ministro, George Papandreou, é do Partido Socialista, Pasok.
Não seria o caso de se perguntar se não são os partidos que se dizem à esquerda que estão completamente sem rumo ao invés de fazer essa acusação à juventude que está nas ruas?
Os movimentos que hoje estão montando barracas, ocupando praças, mobilizando-se pela internet e conseguindo em alguns casos, como no do Egito, derrubar ditaduras históricas, são o novo que garante o frescor necessário para o processo de transformação.
A tentativa da mídia brasileira, em especial da revista Veja, em insuflar algo parecido no Brasil beira o ridículo.
Mas também beira o ridículo quem por conta disso acaba generalizando todas as ações e desqualificando-as.
É preciso buscar entender esse processo, muito mais complexo e difuso do ponto de vista político. Mas também muito interessante para se pensar em novas estruturas de poder. Combatê-lo com discursos preconceituosos e supostamente radicais é coisa de quem tem medo do novo. E isso não é novo, garanto.
No Blog do Rovai, via Com textolivre
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