Este texto começa com uma má notícia para José Serra: ao cogitar escrevê-lo, perguntei-me se interessaria aos leitores. Por quê? Pelo assunto, o ex-governador paulista. Afinal de contas, quem, além de meia dúzia de suas viúvas, tem interesse pelo que diz ou pensa atualmente o político que afundou a oposição com o seu radicalismo cego?
Abandonado pela oposição e pela mídia, Serra vai caindo no ostracismo. Aliás, justiça seja feita, o único leão-de-chácara do PIG que continua na mesma toada dos últimos oito anos é Reinaldo Azevedo, a voz do ex-bibelô da direita na blogosfera.
No post anterior, reproduzi artigo de O Globo que dá conta de que até Fernando Henrique Cardoso parece ter entendido o que Serra ainda não entendeu. Indagado se concordava com a avaliação feita pelo companheiro de partido de que Dilma teria praticado “estelionato eleitoral”, FHC disparou: “As eleições já passaram”.
Além de Serra, só o leitorado da blogosfera de direita parece que tampouco entendeu que o drástico encolhimento da oposição no Congresso não é compensado pelos quarenta e tantos por cento do eleitorado que votaram no tucano. Com uma carreira política que remonta há quase meio século, foi derrotado por uma estreante que jamais disputara uma eleição.
Claro que não se pode subestimar um político cuja ausência do cenário ainda provoca crises de abstinência em uma mídia acostumada a se intoxicar com as suas idéias reacionárias e com o seu populismo barato. Além disso, mesmo políticos sem mídia costumam exibir resiliência em maior ou menor grau. Quantas vezes decretaram a morte política de Maluf, por exemplo?
Contudo, colunistas dispostos a bajular o ex-governador vão escasseando. A Folha chegou a noticiar com surpresa a atualização do site serrista criado para a campanha eleitoral, o “Gente que mente”. Aliás, o tom de surpresa da matéria pareceu-me proposital, como quem diz a Serra, mentor intelectual daquela página, o mesmo que disse FHC: “As eleições já passaram”
Para o bem ou para o mal, o tempo de radicalização na política brasileira parece encerrado. Ao menos no horizonte visível. Resta saber se essa acomodação é sinal de maturidade democrática ou de que não há mais divergências entre as visões de país dos dois principais quadrantes do espectro político, o que seria uma tragédia.
blog da cidadania
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