Alertado pelo Carlos, um dos nossos comentaristas, fui ler e fiquei perplexo com a entrevista publicada noTerra, em que um porta-voz de um movimento de jovens universitários de São Paulo destila os preconceitos contidos no movimento batizado de “São Paulo para os paulistas”. O que me choca mais é que tal pensamento fascista esteja presente em jovens, entre 18 e 25 anos, supostamente esclarecidos, que estão nos bancos das universidades, inclusive públicas.
O movimento ataca a migração, especialmente a nordestina, e chega às raias de afirmar que os “migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil”. O porta-voz do grupo, Williams Godoy Navarro, de apenas 22 anos, confirma o equívoco dessa visão dizendo que “quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes…por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto?”
O desprezo pela força do trabalho revela a mesquinhez absurda desses jovens. Será que eles acham que São Paulo foi construída por quem? De onde surgiu o capital que pagou a mão-de-obra que eles tanto desprezam? São Paulo é um caldeirão de culturas não só do Brasil, mas do mundo. Não existe cultura de São Paulo, algo original, puro e superior, como a ideologia nazista. São Paulo é do Brasil e não dos paulistas como prega o infeliz movimento.
Os jovens do grupo rejeitam o ensino da cultura nordestina nas escolas e seu porta-voz diz que os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constititucionalista de 1932. Seria muito importante que soubessem, mas verdadeiramente. Que se tratou de um movimento para manter os privilégios da oligarquia cafeeira diante de uma revolução que iniciava a transformação do país, misturado a idéias separatistas, explícitas no lema “Tudo por São Paulo”.
O atual movimento nega ser separatista, mas conhece bem o Movimento República de São Paulo, separatista, e deixa entrever ligações perigosas. “A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil”, diz o porta-voz. Como assim? Como é possível apoiar um movimento separatista sem apoiar a separação?
Não há uma resposta do porta-voz do movimento em que não se perceba rancor, preconceito, xenofobia e arrogância. A entrevista chega a assustar com declarações de que “São Paulo não deve nada ao Brasil” e que “o dinheiro dos impostos, das indústrias e do povo de São Paulo é revertido para outros Estados, ao invés de ser aplicado novamente aqui”. Tenho certeza de que um movimento como esse jamais deixará de ser minoritário, mas é preciso estar atento para que não se deixe desenvolver esse ovo da serpente.
By: Tijolaço, via Com textolivre
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