A imprensa fez um barulhão danado sobre um assalto à exclusivíssima loja da marca Rolex, no Shopping Cidade Jardim, um dos paraísos da alta burguesia paulistana. Nela, o relógio mais barato sai pela bagatela de R$ 12 mil. E o shopping, como qualquer um deve imaginar, é uma fortaleza guardada por uma tropa de seguranças.
Dias antes, outra quadrilha havia entrado em outro estabelecimento do local, a chiquissíma joalheria Tiffany's, também símbolo do way of life de diminuta parcela da população mundial - e brasileira.
Os dois episódios são emblemáticos.
Mostram que da violência das grandes cidades ninguém escapa: a ela estão expostos o mais humilde trabalhador e o mais poderoso empresário, o sem-teto que é assassinado a pauladas e o novo-rico que entrega seu poderoso SUV blindado para um pivete qualquer numa esquina dos Jardins.
É o fracasso da política de segurança pública?
Não, é, antes o fracasso de um modelo econômico e social injusto em sua raiz; que estimula a competição individual, o sucesso financeiro a qualquer preço; que não oferece as mesmas oportunidades aos cidadãos; que enfatiza o consumismo desenfreado; que premia não a competência, mas a esperteza; que espolia o trabalho em favor do lucro; que abandona os mais fracos e indefesos; que desrespeita os mais elementares direitos humanos; que fecha as portas para a dignidade; que se chama capitalismo.
Crônicas do Motta
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