Dizem os estudiosos dos meandros ideológicos da política contemporânea que o eleitorado brasileiro está dividido assim: um terço vota sempre com o PT, um terço vota sempre contra o PT e o terceiro terço é que define cada eleição dependendo do lado para o qual penda, sendo que pende para os dois lados de forma alternada. Esse terço do eleitorado é o alvo da impressionante campanha da imprensa de apoio à versão do candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, de que sua adversária Dilma Rousseff teria mandado fazer um dossiê contra si.
Jornais, revistas e portais de internet pertencentes a quatro conglomerados de comunicação familiares estão dando a crer que o material seria usado para difamar o candidato do PSDB em benefício da candidata do PT. Já a imprensa dita alternativa, flagrantemente mais simpática ao PT, ao presidente Lula e à candidata Dilma, dá conta de que houve, sim, um movimento “estranho” entre supostas facções da campanha dela comandadas por este ou por aquele cacique petista. Teria havido proposta de dar notoriedade e, assim, de provocar investigações a acusações à vida pessoal de Serra, acusações que os interessados em política vêem circular há anos na internet.
As imprensas “corporativa” e “alternativa” discutem o assunto por razões diversas, no entender deste blogueiro: a primeira, tenta aplicar uma vacina para que não haja investigação das informações de um dossiê que disseram que iria ser feito, mas que não chegou a ser – e, de quebra, para tentar prejudicar a adversária de seu candidato. A segunda imprensa, tenta fazer jornalismo noticiando um tipo de movimentação que há em todas as campanhas…
Ou alguém acredita que na campanha tucana não existe gente investigando e tentando espionar a campanha de Dilma? Para quem tem memória, existe gente até falsificando documentos oficiais contra ela e publicando-os nas primeiras páginas de jornais ou usando gabinetes de deputados federais do DEM para distribuir ataques à candidata pela internet.
E isso não é chamado de “dossiê” e a culpa fica restrita e isolada a aloprados demo-tucanos, jamais sendo atribuída ao candidato a presidente do partido deles, como acontece com Dilma.
Enfim, querer discutir os radicais que existem em todas as campanhas não leva o Brasil a lugar nenhum, não esclarece nada sobre o futuro do país e só serve para alimentar ódios, medos, vaidades, ambições das mais diversas e até para dar vazão à bílis de certos fígados. Então voltemos àquele terço do eleitorado que interessa, pois é quem decidirá a eleição presidencial.
Apesar de dossiê ser uma palavra de significado complexo, tornou-se bem conhecida no país por conta do processo político pós-redemocratização, processo que já caminha para completar um quarto de século. Aliás, no passado recente, a palavra dossiê não saiu do noticiário por extensos períodos. Quem não a viu na tevê ou não a ouviu no rádio leu nas espalhafatosas manchetes de jornal expostas pelas esquinas do país.
A memória desse terço despolitizado do eleitorado inconscientemente lhe revela que nada resultou daquele monte de vezes que viu e ouviu a palavra dossiê ser associada à sigla PT. É assim que funciona o processo de reação e de posterior ação desse segmento. A isso, adiciona-se o fato de que há outras razões para ser tolerante com o PT, tais como a economia e o crescente bem-estar social, que tucanos e mídia podem negar à vontade que não elidirão dos corações e mentes pátrios.
Em suma, vejo mais um esforço inútil para desmoralizar Dilma. Um esforço da grande imprensa pró-Serra que só serve para mostrar a esse terço balouçante do eleitorado que, de fato, a mídia é tucana, diante dessa expressiva quantidade de matérias defendendo Serra e acusando Dilma e o PT que tomaram o noticiário político neste sábado, exatamente como sempre acontece, como todos estão acostumados a ver.
A grande maioria daquele terço do eleitorado, então, acaba se perguntando, com o tempo, por que Serra e o PSDB sempre têm razão, na mídia, quando brigam com o PT. Ao ouvir mais denúncias contra Dilma e o PT, lembra-se de todas as outras que não deram em nada. E, então, essas pessoas se lembram de que têm que ir ao shopping ou comprarem carro novo ou roupas ou casas e apartamentos ou eletrodomésticos ou mesmo comida melhor e, por fim, muitas vezes elas têm mesmo é que ir para o novo emprego com carteira assinada que acabam de conseguir.
Como eu disse em texto anterior, cada um escolhe perder da forma que achar melhor. Perder jogando sujo, porém, dói mais; ainda que, por outro lado, vencer quem jogou sujo é que seja bom mesmo.
by: blog da cidadania
Nenhum comentário:
Postar um comentário