terça-feira, 15 de dezembro de 2009
"Grupo Bandeirantes" ameaça "melar" a Confecom; "Globo" usa "JN" para bater na Conferência
Lula quer mostrar que tem mais jogo de cintura do que ela? Vá até o fim do texto e saiba do que estou falando
Estou em Brasília. Acompanho a cerimônia de abertura da Confecom, a Conferência de Comunicação convocada pelo governo Lula (depois de grande pressão dos movimentos sociais que lutam pela democratização do setor).
Pois bem. A cerimônia devia ter começado há duas horas. Mas, nos bastidores, corre a informação de que o Grupo Bandeirantes estaria ameaçando abandonar a conferência. Por isso, há uma reunão de emergência pra apagar o incêndio...
Pra quem não está acostumado com esse debate, um rápido resumo. Quando Lula convocou a Confecom, as maiores emissoras de TV (reunidas na ABERT - "Globo") - além de jornais (ANJ - "O Globo, "Folha", Estadão) e revistas (ANEER - Abril) - fizeram de tudo para inviabilizar a conferência. Queriam controlar a pauta de debates, queriam controlar a comissão organizadora.
Não aceitaram as regras da Confecom, e logo se retirarm do processo.
O governo fez um enorme esforço para convencer a ABRA (que reúne Band e RedeTV) e as teles (grandes grupos que chegaram a Brasil para investir em telefonia e internet - Oi,Telefônica, Vivo) a permanecer na Confecom.
Deu certo. As etapas municipais e estaduais da Comfecom ocorreram, com sucesso.
Para agradar os empresários, criou-se uma regra que divide os delegados da Confecom nacional (esses que estão agora reunidos em Brasília, e que foram eleitos em cada Estado) em 3 categorias: sociedade civil (40%), empresários (40%), governo (20%). Além da sobre-representação empresarial (40% é demais!), estabeleceu-se outra regra: propostas polêmicas (ou, "temas sensíveis") só serã aprovadas na Plenária Final da Confecom se tiverem % dos votos. E mais: é preciso a aprovação de ao menos um representante de cada setor. Ou seja, em tese, os empresários teriam poder de veto na Plenária Final, porque detém 40% dos delegados. Se todos os delegados empresariais fecharem contra uma proposta, o veto estará dado.
O governo avalia que valeu ceder porque realizar a Confecom contra vontade de Globo, Veja, Folha e outros é uma grande vitória.
Concordo. Só acho que o governo Lula tinha força para ter convocado a Confecom muito antes. Mas ok. Essa discussão já está vencida.
O que ineteressa é que agora o Grupo Bandeirantes quer mais!!! Quer direito de veto também nos grupos de trabalho (GTs) que vão selecionar as propostas para a plenária final. Isso não está previsto nas regras. Mas eles querem. Estão acostumados a mandar. E pronto!
Há mais de mil delegados do Brasil inteiro a esperar a cerimônia de abertura. Que não ocorre porque o Saad (dono da Band) resolveu vender um pouco mais caro a participação na Confecom.
Isso porque é a Bandeirantes. Imaginem como seria o jogo se a Globo estivesse aqui?
O governo Lula aposta em negociar, sempre. É uma grande mérito. Mas dar essa moral toda aos Saad já é demais.
Em vez de debater comunicação, estamos no plenário, olhando a Ivete Sangalo a requebrar no telão. Sabe-la lá por que, alguém resolveu botar um DVD da Ivete pra acalmar o povo, enquanto o Saad não acaba de cobrar a fatura dele.
Viva a Ivete Sangalo!
EM TEMPO - Acabo de saber que os representantes do governo na comissão organizadora da Confecom "cederam" (digamos assim) aos argumentos da Band. Empresários terão direito de veto também nos grupos de trabalho da conferência (pelo menos, é o que eles acham; mas podem ter surpresas...)
EM TEMPO 2 - A Globo usou o JN para bater na Confecom. Até agora, fazia de conta que não existia. Com duas mil pessoas em Brasilia debatendo comunicação, a Globo decidiu bater. Vejam o que saiu no Jornal Nacional (o texto está no G1; não consegui saber se foi um editorial assumido, lido pelo apresentador, ou um arremedo de reportagem; alguém viu?) - http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1415094-10406,00-CONFERENCIA+DEBATE+CONTROLE+SOCIAL+DA+MIDIA+E+NOVA+LEI+DE+IMPRENSA.html
(texto do JN, no G1)
"Começou, nesta segunda-feira, em Brasília, a primeira Conferência Nacional de Comunicação, que pretende debater propostas sobre a produção e distribuição de informações jornalísticas e culturais no país. Entre as propostas, estão o controle social da mídia por meio de conselhos de comunicação e uma nova lei de imprensa.
O fórum foi convocado pelo Governo Federal e conta com 1.684 delegados, 40% vindos da sociedade civil, 40% do empresariado e 20% do poder público.
Mas a representatividade da conferência ficou comprometida sem a participação dos principais veículos de comunicação do Brasil. Há quatro meses, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, a Associação Brasileira de Internet, a Associação Brasileira de TV por Assinatura, a Associação dos Jornais e Revistas do Interior do Brasil, a Associação Nacional dos Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais divulgaram uma nota conjunta em que expõem os motivos de terem decidido não participar da conferência. Todos consideraram as propostas de estabelecer um controle social da mídia uma forma de censurar os órgãos de imprensa, cerceando a liberdade de expressão, o direito à informação e a livre iniciativa, todos previstos na Constituição.
Os organizadores negam que a intenção seja cercear direitos. A conferência foi aberta com a participação do presidente Lula."
Do blog O escrevinhador de Rodrigo Vianna
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