por Luiz Carlos Azenha
Não pretendo discutir, aqui, se de fato o clima no mundo está ou não mudando, se sempre mudou porque a Terra está em constante transformação, se a atividade do homem na Terra colaborou com o aquecimento global e outros temas. Fiquem à vontade para fazê-lo nos comentários. Não acho que o assunto esteja definitivamente encerrado, pois o cigarro um dia vendido de forma glamourosa causava câncer e o fim do mundo por causa do bug do milênio não se materializou.
O que me interessa é discutir o que se esconde por trás do discurso oficial das grandes nações do planeta.
Sabemos que os Estados Unidos e a União Europeia se desenvolveram tirando proveito de todos os seus recursos naturais e mais daqueles que estavam ao alcance de sua expansão imperial na Ásia, na África e na América Latina. Este é um dado histórico, incontestável. Basta analisar, por exemplo, a empresa da escravidão dos negros africanos, mão de obra gratuita que trabalhou as terras brasileiras, que exportou no açúcar a água e o poder energético do sol colhidos no Brasil para abastecer as mesas do nascente mercado consumidor. Basta ver a degradação ambiental promovida pela industrialização dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, a poluição dos rios europeus e os grandes projetos de mineração, de construção de represas ou ferrovias que varreram montanhas, florestas e rios do mapa.
É óbvio que, como grandes poluidores do meio ambiente, os Estados Unidos, as nações europeias e o Japão devem contribuir proporcionalmente com os esforços para mitigar as mudanças climáticas com as quais eventualmente tenham contribuído.
É óbvio, igualmente, que os paises em desenvolvimento -- como o Brasil, a Índia e a China -- podem e devem, na medida de suas possibilidades, adotar políticas públicas distintas daquelas praticadas anteriormente pelos grandes devastadores, por todos os motivos do mundo: a degradação ambiental é, também, degradação humana; ela embute custos que, mais tarde, serão pagos pela própria sociedade que a pratica (as doenças ambientais, por exemplo); o consumismo desenfreado é uma impossibilidade material para uma sociedade que realmente se pretende democrática (que garanta que a população realmente desfrute dos recursos naturais de forma equânime).
Dito isso, é sempre importante lembrar que os Estados Unidos, os europeus e os japoneses seguem sendo os maiores consumidores de recursos naturais do planeta, muitos dos quais obtidos na África, na Ásia e na América Latina. Que a matriz energética dos Estados Unidos continua fortemente dependente do carvão (responsável pela produção de quase 50% da energia elétrica do país) e que a matriz energética da China é fortemente dependente do carvão (65% da energia elétrica do país).
Que, enquanto nos fóruns internacionais, esses países se dizem interessados em combater o aquecimento global, internamente poucas medidas práticas ambos tomam para fazê-lo, colocando sempre o consumo e o bem-estar de suas próprias populações acima de objetivos genéricos do planeta.
Que os grandes poluidores são também aqueles com maior capacidade humana e financeira para desenvolver as novas tecnologias ligadas à produção de energia limpa.
Fiquem alertas, pois, para a seguinte possibilidade: eles vão explorar todos os recursos naturais disponíveis em seus próprios territórios enquanto nos acusam de degradar o meio ambiente e ao mesmo tempo vão faturar nos vendendo a tecnologia necessária para produzir energia limpa. Resumo do filme: Não faça o que eu faço e pague para não fazer o que faço. É preciso ter cuidado para não cair nessa armadilha neocolonial.
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