por Luiz Carlos Azenha
Não foi por opção pessoal, mas por obrigação profissional. Vi a cobertura do Jornal Nacional sobre as novas enchentes em São Paulo, na quarta-feira (16).
Choveu muito. Choveu torrencialmente. Choveu oito dias em quatro horas, de acordo com o JN.
O JN dedicou boa parte das reportagens, com gráficos e tudo, a provar que os pobres invadiram o Jardim Pantanal e, portanto, merecem o que estão sofrendo.
Sim, sim, os pobres da zona Leste de fato invadiram as várzeas do Tietê. Mas, não foram os únicos. São Paulo fez oficialmente a opção de ocupar as várzeas do rio Tietê quando construiu a marginal Tietê sobre as várzeas que serviam para a expansão do rio durante a cheia.
Ali Kamel, não o ator pornô, o guia do Jornalismo Nacional, reprisou em São Paulo a teoria que gosta de pregar, sempre de forma dissimulada, no Rio de Janeiro: a remoção dos pobres.
Eles são um estorvo. Poluem o cenário.
A certa altura o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, aparece na reportagem para dizer que não pretende mais bombear as águas do lugar alagado. Na singela explicação para o descumprimento da promessa, uma fala risível: se a gente tirar a água, mais água vem. Ora, ele não deveria ter pensado nisso antes de fazer a promessa?
Chove muito. Os pobres estão onde não deveriam estar. E sofrem por isso.
Essa é a lógica da cobertura do Jornal Nacional: culpar a população.
Assim como o governador de São Paulo, quando fala no assunto, enfatiza: a culpa é da população, que joga lixo na rua.
Aliás, onde anda o governador José Serra? Ah, sim, não vale misturar o governador com assuntos tão prosaicos como a limpeza da calha do Tietê, uma verdadeira desocupação das várzeas que atinja também os ricos ou um sistema de controle de vazão dos rios Tietê e Pinheiros que não puna apenas os bairros pobres.
Ele está em Copenhague, resolvendo os problemas climáticos do planeta.
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