O sociólogo e professor universitário Alberto Carlos Almeida, autor do livro "A Cabeça do Brasileiro", escreve, na coluna semanal que tem no caderno Eu&Fim de Semana, do "Valor", que uma cesta de itens de higiene pessoal comprada nos Estados Unidos tem uma carga de impostos absurdamente menor que outra idêntica adquirida no Brasil.
Feita a constatação, assegura que "sustentamos um governo ineficiente e caro". E na sua condição de intelectual requisitado para conferências e palestras sobre os rumos políticos do país assevera que "os argumentos técnicos não resistem a este exercício prosaico e simples: fazer a mesma compra nos dois países e comparar o preço final da compra com os salários médios da economia".
No fim, não resiste à tentação e compara os dois principais candidatos presidenciais: "Serra disse no discurso que lançou sua candidatura que a carga tributária no Brasil é sideral, faltou completar dizendo que ela precisa ser reduzida. Um é corolário do outro. Dilma precisa acordar para isso. Até agora não se ouviu uma palavra sequer da boca de Dilma acerca de nossa carga tributária. Não creio que ela só faça compras nos EUA."
Quem lê um artigo desses se atendo apenas aos títulos e à qualificação do autor, certamente se impressionará e acabará concordando com ele: puxa vida, como é que os EUA, com impostos tão mais baixos e salários tão maiores, conseguem ter um custo de vida equivalente ao do Brasil? Só pode ser porque nosso governo não presta e o deles é a melhor coisa do mundo.
Mas, se riscarmos um pouco o verniz do suposto cientifismo do escrito, vamos ver que ele é totalmente tolo, infantil e, pior, fraudulento: o autor esqueceu de dizer aos seus queridos leitores que a carga tributária brasileira sustenta um sistema universal de saúde que os EUA estão apenas agora prestes a possuir; um sistema de ensino universitário gratuito, que os EUA não têm; e um sistema de previdência social que garante aposentadorias para todos os trabalhadores - que os EUA nem sequer imaginam como seja.
Também omitiu um dado importante: a reforma tributária ainda não saiu porque nem os prefeitos, nem os governadores, incluindo os da oposição ao atual governo, querem.
No fundo, esse palavrório todo do ilustre sociólogo não passa de uma propaganda disfarçada de uma ideologia totalmente fracassada que prega o "Estado mínimo" para que os empresários possam usufruir do "lucro máximo" sem risco nenhum.
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