Somente quando aumentar o interesse e a informação dos eleitores teremos melhores condições de visualizar o que vai acontecer em outubro. Por enquanto, temos apenas indícios e pistas
Estamos a apenas cinco meses das eleições presidenciais e continua grande o contingente de pessoas sem interesse por elas. De acordo com as pesquisas, cerca de 40% dos eleitores está nessa categoria, sendo que metade se diz “pouco” e metade “nada” interessada.
Embora seja elevado, é um número melhor que o das pessoas que, fora da época eleitoral, se interessam por questões políticas. Longe das eleições, os desinteressados chegam a 50% ou passam a ser maioria.
Note-se que isso não quer dizer que os restantes sejam todos igualmente interessados. Os que se dizem “muito” não costumam ir além de 25%, ou seja, são apenas um em cada quatro eleitores. Para chegar à metade ou a ultrapassá-la, temos que incluir os que estão no grupo do “mais ou menos”, dos moderadamente interessados.
As evidências mostram que a maioria das pessoas não costuma dedicar ao tema atenção constante, não se envolve emocionalmente com ele e só o acompanha de vez em quando. Para elas, política é uma coisa chata e aborrecida, da qual, simplesmente, não gostam. Não percebem sua relevância e não entendem aqueles para quem ela é uma preocupação importante.
O Brasil não é diferente dos outros países do mundo nesse aspecto. Existem alguns cuja cultura política é caracterizada por forte passionalismo e alto nível de militância, como a Argentina. Mas são a exceção e não a regra. E, pensando em termos históricos, em quase todos se constata o aumento do desinteresse e a redução da participação política. A própria necessidade que a campanha Obama teve de motivar os jovens a votar nas últimas eleições americanas é um sintoma desse fenômeno.
Na política, como em tudo na vida, o baixo interesse leva à baixa procura por informação. O que pode ser agravado quando a propensão a buscá-la é limitada pelas dificuldades de acesso à educação: indivíduos desinteressados tendem a ser desinformados; indivíduos desinteressados e com baixa escolaridade, mais ainda.
Em comparação com os Estados Unidos e outras democracias avançadas, o problema brasileiro está no convívio do sistema de obrigatoriedade do voto (que faz com que mesmo as pessoas que não têm qualquer interesse sejam obrigadas a votar) com a desinformação média do eleitorado, proveniente das ineficiências de nosso sistema educacional. Voltando ao caso argentino: lá, o voto também é universal e obrigatório, mas os níveis de escolaridade sempre foram melhores que aqui e existe uma cultura onde se valoriza a politização das pessoas (o que não se pode dizer da nossa).
O saldo disso está nas pesquisas que vêm sendo publicadas ultimamente. A começar pelos números das intenções espontâneas de voto: depois de anos da campanha mais longa de nossa história, depois das milhares de páginas destinadas pela mídia às eleições, depois de os políticos dedicarem a elas o melhor de seus esforços, apenas um terço dos entrevistados menciona algum nome sem estímulo. Na mais recente pesquisa da Vox Populi, por exemplo, feita no fim de março, os verdadeiros candidatos, somados, totalizavam 31% (Dilma 15%, Serra 12%, Ciro — ainda candidato — e Marina, juntos, 4%). O que quer dizer, inversamente, que 70% dos entrevistados não estavam muito certos a respeito do que vão fazer em outubro.
Mas há uma dimensão destas eleições que permite ver, com mais clareza, as dificuldades da disseminação da informação política em um país como o nosso: a proporção de eleitores que identifica corretamente a candidata de Lula. Não deve ter havido, nos dois últimos anos, algo mais noticiado que o nome de Dilma. No entanto, quando se pergunta quem é “o/a candidato/a” de Lula sem apresentar lista com nomes, cerca de 40% dos entrevistados não conseguem acertar. Mesmo com estímulo, ainda são 30%.
Tudo que as pesquisas de agora dizem deve ser entendido dentro desse quadro. As variações entre os institutos e as flutuações entre seus resultados têm aí sua principal explicação. Decorre também dele a atual estrutura das intenções de voto. Somente quando aumentar o interesse e a informação dos eleitores, teremos melhores condições de visualizar o que vai acontecer em outubro. Por enquanto, temos apenas indícios e pistas.
Marcos Coimbra - Sociólogo e presidente do instituto Vox Populi
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