terça-feira, 4 de maio de 2010

UMA RECEITA PARA JOSÉ SERRA



 
   
Infelizmente, parece que a oposição ao governo Lula e sua imprensa ainda não entenderam a campanha eleitoral que o Brasil quer.
 
E podem dizer que esta opinião se relaciona com minha preferência política, é claro. É compreensível que pensem assim. Até porque, poucos acreditarão que penso mesmo o que digo que penso.
Duvido de que até quem tenha a minha posição política acreditará que acho mesmo que os brasileiros, em larga maioria, querem o tipo de campanha eleitoral que descreverei. Desta maneira, peço que não se esqueçam destas palavras como pedi outras vezes que não se esquecessem do que disse, como no caso da crise econômica internacional.
O fato é o de que o Brasil está vivendo um momento inédito em sua história. Um momento de intensa mobilidade social e no qual todos, absolutamente todos estão ganhando. Isso significa que o povo tem uma só preocupação: a de saber como dar continuidade a tudo isso que está aí.
Não descarto a possibilidade de que seja possível convencer as pessoas de que quem melhor poderá tocar esse verdadeiro bólido de fórmula um que é o país hoje não seja aquela que o homem que vem comandando essa ascensão do Brasil está a indicar. Mas, para fazê-lo, quem se dispuser a disputar o voto de confiança da população terá que ter argumentos.
O grande problema para a oposição ao governo Lula é o de que ela acha que não precisa de argumentos por ter a grande mídia do seu lado. Aposta que, ao dominar o grande debate político que só a imprensa pode fazer, tem como esmagar o adversário, esquecendo-se de que este, por outro lado, tem a máquina pública do seu lado, para o bem e para o mal.
Ter a máquina pública federal ao seu lado em uma eleição presidencial, no entanto, nem sempre é uma benção. Pode ser uma maldição como foi para Fernando Henrique Cardoso em 2002, porque se o povo não estiver satisfeito com o que é feito dessa máquina não haverá política eleitoreira conjuntural que mude sua opinião.
Como cidadão que acompanha os movimentos eleitorais do pais, com grande interesse, durante quase quatro de suas cinco décadas de vida, acho que o meu povo pode, sim, votar no candidato que tentará açular o viés conservador do brasileiro, avesso às teses distributivistas (de renda e de oportunidades) da centro-esquerda.
Mas, para isso, precisará de argumentos melhores do que esse que inunda os jornais e tevês de que tudo de bom que vem acontecendo no país é mérito do governo de oito anos do PSDB e de que tudo que persiste de ruim é demérito deste governo. Simplesmente porque essa teoria não tem lógica.
Talvez funcionasse se o PT não pudesse ir à televisão dar a sua versão dos fatos como é hoje, quando só o grupo político de Serra é que fala alto e com freqüência. Assim, os questionamentos que a campanha de Dilma fará a essa tese virão recobertos de lógica e do sentimento de sucesso que permeia hoje a sociedade brasileira.
Tenho um exemplo caseiro sobre o que quer o brasileiro que me foi passado pelo marido de minha filha nestes dias. Esse casalzinho construiu uma vida de classe média-média. Esses jovens não dão bola para esse embate político histérico que um setor minúsculo da sociedade trava. Estão preocupados apenas com o futuro.
Meu genro, por exemplo, é um rapaz de ouro, formado em análise de sistemas, que conseguiu um excelente emprego, leva uma vida confortável com a minha filha e a filha de ambos, mas quer tomar uma decisão muito consciente em outubro porque já entendeu que a política pode melhorar ou piorar a sua vida.
Como meu genro e sua pequena família não têm relações com políticos ou com dinheiro público, e muito menos com ideologias e afins, pouco lhe importa se Serra é de direita ou se Dilma é de esquerda e tampouco se preocupa com as acusações que PT e PSDB trocam. Dilma foi “terrorista”? Serra foi “fujão”? Não lhe interessa.
O rapaz me disse uma coisa muito sábia: quero ouvir o que eles propõem, não as acusações que se fazem para vencer a eleição.
Bem, daí vocês me dirão que meu genro é da elite e tem recursos intelectuais e que por isso é que ele pensa assim. Discordo. Já ouvi a mesma coisa de gente humilde. Porque o brasileiro já entendeu, faz tempo, que, dependendo do presidente que escolher, sua vida pode melhorar ou piorar. O país já colheu frutos amargos de escolhas de presidente que fez.
Podem dizer o que quiser, que FHC tem não sei quantos diplomas, que fala não sei quantas línguas, que é bonito, cheiroso etc. e etc., mas nada disso conseguirá apagar a lembrança que as pessoas têm da época em que ele governou, quando o país estava numa lona de fazer gosto.
Podem dizer, também, que não é FHC que irá disputar a eleição, mas não conseguirão desvincular Serra e o ex-presidente do partido e do projeto de país que comandaram juntos, e tampouco poderão negar que ambos continuam do mesmo lado, compartilhando as mesmas idéias. Não conseguirão porque é isso o que está acontecendo à vista de quem quiser ver.
Serra pode se eleger, sim, se tiver alguma proposta que convença as pessoas de que seu grupo político pode fazer melhor do que fez e faz este governo, mas tentar atribuir justo a FHC os êxitos destes anos todos sem explicar melhor essa tese, parece-me um devaneio. Além do que, mostra como o candidato tucano sabe que não tem como se dissociar do ex-presidente tucano.
A oposição e sua máquina midiática parece que não conseguem aceitar que as pessoas estejam aprovando a forma como o Brasil é governado e parecem achar que elas têm algum ressentimento latente contra este governo, um sentimento que de forma alguma existe. Muito pelo contrário, o que existe é um sentimento de júbilo.
E a apoiar esta minha tese há simplesmente a mais pura lógica. Basta, para tanto, olharmos para a última eleição presidencial. A mídia e o PSDB jamais admitirão que a propaganda anti-PT e anti-Lula da imprensa fez tudo que podia para convencer o país de que Lula era um corrupto e incompetente, mas não conseguiu.
A direita fica dizendo a si mesma que Lula se elegeu apesar do noticiário não porque o povo acha que ele melhorou o Brasil, mas porque o presidente teria algum poder hipnótico que faz as pessoas enxergarem sucesso onde só existe fracasso...
É uma bobagem imensa. Estivesse mal o país, não haveria lindos olhos de Lula que mudariam a reprovação popular. Lula se elegeu porque o povo percebeu que ele estava melhorando sua vida. E, assim, ignorou a imprensa.
Quanto mais a mídia do PSDB tentar vender que Lula é “corrupto”, que Dilma é “terrorista”, menos a população irá acreditar quando analisar a teoria. Simplesmente porque todos sabem que a imprensa é inimiga de Lula. Alguns apóiam isso, mas são minoria.
Em suma, tanto a oposição declarada quanto a enrustida não conseguem entender que se dirigirão à mesma platéia à qual se dirigiram em 2002 e em 2006 e que está muito antenada nas razões do sucesso do Brasil. Para vencer, a oposição terá que convencer toda essa gente de que descobriu uma fórmula melhor do que a do PT para fazer o país melhorar.
Só espero que, no dia primeiro de novembro, todos vocês se lembrem do que estou dizendo agora, seis meses antes.


 Escrito por Eduardo Guimarães

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