DR. ROSINHA*
FHC parece sonhar com uma passeata como a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, que precedeu o golpe de 1964. Não faltaria apoio de setores conservadores
Na minha infância, o Dia de Finados não era só feriado. Era um dia de respeito, orações, recordações e memória. Para alguns, de mau agouro. Íamos ao cemitério visitar o túmulo dos parentes e alguns amigos.
Ainda hoje há muitas pessoas que respeitam este dia e têm nele uma data de pesar, dor, recordações e orações. Outros aproveitam o feriado e vão para a festa ou para a praia.
Mas, na véspera de Finados, quando é celebrado o Dia de Todos os Santos, o ex-presidente FHC fez uma tentativa de ressurreição. Errou até a data: ressurreição é na Páscoa.
Tentou sua própria ressurreição com o artigo "Para onde vamos?", publicado por diversos jornais do país em 1º de novembro.
Num dos jornais que publicou o texto, uma sofisticação: o desenho de uma placa de trânsito, de cor vermelha, e ao centro a palavra "STOP", assim mesmo, em caixa alta e em inglês. E a letra "O", substituída pela mão do presidente Lula, justamente aquela em que falta um dedo —amputado após um acidente de trabalho.
A ilustração demonstra o preconceito e a afinidade dos tucanos com os Estados Unidos. Forço a barra? Talvez. Mas que FHC governou em circunflexão perante aos EUA, ninguém tem dúvida.
Vale lembrar que, em março de 2002, Celso Lafer, então ministro das Relações Exteriores de FHC, foi obrigado a tirar os sapatos, não uma, mas três vezes ao entrar e sair dos EUA.
Isto me lembra uma frase do Millôr Fernandes: "Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos". Os oprimidos brasileiros, cansados de ver o que não queriam de FHC, mudaram de governo.
Ao ler a primeira frase do artigo ("A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda..."), pensei: antes tarde do que nunca, FHC ressuscita para fazer uma autocrítica de seu período de governo.
Adiante, vi que não se tratava de uma autocrítica, mas uma crítica ao presidente Lula. Quanto mais lia, mais entendia: dor de cotovelo e sonho. FHC parece sonhar com a possibilidade de organizar uma passeata aos moldes da Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, que precedeu o golpe de 1964. Apoio não faltaria por parte de setores conservadores da imprensa, dos Democratas [sic] e do PPS.
Pensei em dar uma resposta, comentar ideia por ideia e comparar um governo e outro. Porém, seria chato e enfadonho, tal como é o artigo de FHC.
O ex-presidente clama por ideais democráticos, quando ele corrompeu o Congresso, talvez por menos de 30 moedas, para obter sua reeleição, enquanto Lula negou mais um período, apesar de haver apoio para um terceiro mandato.
E o que dizer da corrupção deslavada na chicana das privatizações? Nunca num governo os amigos tiveram tanto como no governo FHC. Daniel Dantas que o diga.
Em seus oito anos de governo, FHC não conseguiu construir nenhuma obra. Nem manter as que tinham. Privatizou estradas, e as não privatizadas eram intransitáveis, só buracos. O salário dos servidores públicos foi achatado. As empresas estatais, vendidas. E o Estado nada investiu. Ao criticar as obras do PAC, tenho a impressão de que FHC reage como criança invejosa.
Na véspera de Finados, FHC tentou sair de seu sepulcro político e fez bobagem. Resolveu dar pau no melhor e mais popular presidente que o Brasil já teve. O melhor seria ter se mantido em seu silêncio sepulcral, pois tal comportamento não ajuda seu partido.
Quando criança, no Dia de Finados, eu só ia ao cemitério porque não tinha com quem ficar em casa. Tinha medo e achava que seria mau agouro. Agora, adulto, entendo: mau agouro é ter tucano para nos atucanar, ou melhor, a nos atocaiar.
Para onde vamos? Não tenho dúvidas: sem tucanos, para tempos melhores.
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