por Jonathan Wheatley, no Financial Times
Published: November 4 2009 16:29
Os maltusianos preocupados com a capacidade do mundo de se alimentar deveriam ouvir Roberto Rodrigues, um consultor do agronegócio e ex-ministro da Agricultura brasileiro.
"A ideia de que haverá falta de alimento é errônea", ele diz. "A produção no Brasil está crescendo em todas as áreas".
De um pequeno país agrícola, o Brasil se tornou uma superpotência nas últimas duas décadas, se tornando o maior exportador de carne, frango, concentrado de laranja, café, açúcar, etanol, tabaco e do complexo de soja, grãos e óleo, além do quarto maior exportador de milho e carne de porco.
Ao contrário da maior parte da economia brasileira, onde os crescimentos de produtividade foram menos que espetaculares, a agricultura atingiu seu novo status graças ao gerenciamento mais eficiente e ao desenvolvimento e aplicação de tecnologia.
Entre as safras de 1990-91 e 2008-09, por exemplo, a produção de grãos aumentou de 58 milhões para 144 milhões de toneladas. No mesmo período, a área plantada com grãos aumentou apenas 26%, de 39,9 para 47,7 milhões de hectares. A produtividade, medida em toneladas por hectare, quase dobrou.
Entre 1980 e 2008, o número de vacas leiteiras subiu de 16,5 milhões para 21,5 milhões, enquanto a produção de leite aumentou de 11,2 bilhões para 27,1 bilhões de litros -- um ganho de produtividade de 86%. Entre 1994 e 2009, a produção de carne aumentou 77%, de carne de porco 133% e de carne de frango, 217%.
Mas a importância do Brasil como fornecedor global se baseia mais em potencial do que em performance passada. De seu território total de 851 milhões de hectares, cerca de 340 milhões são bons para a agricultura. Destes, 72 milhões estão sendo usados na agricultura e 172 milhões como pastagens. Isso deixa 96 milhões de hectares livres para a agricultura, sem tocar uma árvore da floresta amazônica ou outras áreas sensíveis.
Ainda assim fazendeiros e pecuaristas tem cortado as florestas do Brasil em um ritmo alarmante. Embora a taxa de devastação na Amazônia tenha caído de 27 mil km quadrados em 2004 para 11,2 mil km quadrados em 2007, ainda é alta.
O governo diz que o declínio se deve a melhor monitoramento e controle, embora muitos cientistas digam que a flutuação dos preços das commodities tiveram um papel maior na queda e no aumento subsequente do desmatamento.
Muita da terra disponível para a agricultura fica em partes do país onde os títulos de propriedade são relativamente bem estabelecidos e a lei é cumprida. Na maior parte da Amazônia não é o caso. É fácil para um pequeno pecuarista, por exemplo, cortar a floresta e usar a terra para criar gado por alguns anos até que os nutrientes se esgotem, e se mudar para outra gleba.
Um melhor monitoramento e iniciativas de mercado geram esperança de que o deflorestamento vai diminuir. Enquanto isso, os fazendeiros se concentram em aumentar a produtividade.
O número de cabeças de gado aumentou de 78,6 milhões em 1970 para 169,9 milhões hoje, enquanto a terra usada para pastagens passou de 154,1 milhões de hectares para 172 milhões de hectares.
No estado de São Paulo, há 1,55 cabeça de gado por hectare de pastagem; se essa média, que é baixa pelos padrões internacionais, fosse mantida no resto do país, outros 62 milhões de hectares se tornariam disponíveis para o plantio.
Pecuária de alta densidade é um avanço tornado possível por cientistas de centros de pesquisa agrícolas do país, que desenvolveram melhores variedades de capim, por exemplo. O Brasil também é ajudado por seu clima tropical, com quantidades de sol e chuva geralmente previsíveis.
A maior eficiência gerou monoculturas, especialmente de cana de açúcar e soja. Grandes áreas estão cobertas por mares desses produtos, pontilhados por equipamentos de irrigação.
O sr. Rodrigues, que é de uma família de fazendeiros, diz que visitou recentemente a fazenda de um filho no norte do estado do Maranhão.
Quando pediu ovos frescos e saladas da horta, o filho disse que ele poderia comprar no supermercado.
"É como tem de ser hoje", ele diz. "Concentração no meio mais eficaz de produção". O conhecimento dos fazendeiros avançou enormemente, mas eles ainda enfrentam problemas. Estradas ruins e outros problemas logísticos aumentam bastante o preço de levar os produtos ao mercado.
Ao contrário de outras nações agrícolas, o Brasil quase não tem seguro rural para proteger os fazendeiros de fatores fora de seu controle; além do clima, eles também ficam vulneráveis aos juros, taxa de câmbio, negociações comerciais e mais.
O sr. Rodrigues diz que não é verdade, como muitos do setor reclamam, que o Brasil não tem política agrícola. O que falta, ele diz, é uma estratégia ampla para o setor, coordenada por mais de um ministério.
Apesar desses problemas, o sr. Rodrigues diz que o status do Brasil como um superpoder agrícola só vai crescer. Ele diz conhecer 22 fundos de investimento estrangeiros em busca de oportunidades.
"Se eu fosse investidor, colocaria meu dinheiro em logística e fertilizantes", ele diz. "As oportunidades são fantásticas. E as pessoas estão vindo sem que a gente as convide".
Nenhum comentário:
Postar um comentário