Por Paulo Nogueira, via DCM
Dilma usou várias vezes – mais do que deveria, é certo – o adjetivo “estarrecedor” nos debates com Aécio no segundo turno.
Imagino que seja por isso que uma nota do PSDB sobre os delegados da PF na operação Lava Jato tenha, logo no começo, exatamente essa expressão: “É estarrecedor”.
Mas o que é “estarrecedor” para o PSDB?
Bem, ficamos sabendo que o que supostamente causa horror ao PSDB é a decisão do ministro de Justiça de investigar os delegados da PF da Lava Jato que no Facebook, em grupo fechado, trocaram durante a campanha mensagens torrencialmente insultuosas contra Dilma, Lula e o PT.
O caso se limitaria simplesmente à questão de atentado à honra se não se tratasse dos delegados que estão investigando o episódio Petrobras.
Bastaria talvez aos agredidos processá-los na Justiça por calúnia e difamação.
Lula foi chamado de “anta”, e uma caricatura de Dilma com os dentes incisivos de fora ilustra um grupo do qual um delegado da PF faz parte.
Mas o assunto é muito mais complicado e muito mais grave.
Como policiais apaixonadamente antipetistas podem cuidar de um caso que exige completa isenção partidária para não se transformar num panfleto político?
Quem acredita que o antipetismo fulgurante dos policiais não vai interferir nas investigações – e nos vazamentos para a mídia – acredita em tudo, para usar a grande frase de Wellington.
Transporte os trabalhos, para que você tenha uma ideia da dimensão do problema, da polícia para a imprensa.
Como a Veja, por exemplo, se comportaria numa reportagem investigativa sobre o mesmo tema?
Com isenção? Levando ao leitor tudo que descobriu?
Ou, pelo furor antipetista, seria tentada a jogar luzes sobre o que lhe interessa e engavetar o que entende que possa prejudicar seus amigos e aliados?
Nem a velhinha de Taubaté, o personagem de Veríssimo que acreditava em tudo, confiaria nos resultados do trabalho de um grupo da PF tão tomado de ódio partidário.
Pelas postagens absurdas, ainda que fechadas, os delegados da PF na Lava Jato estão, sim, desacreditados.
O Brasil já viveu mais de uma vez – com Getúlio e Jango – situações em que, em nome do combate à corrupção, se tramou na verdade um golpe contra a democracia.
O combate à democracia – o real, o genuíno, o vital para o desenvolvimento social do país – é importante demais para ser deixado nas mãos de delegados da PF que parecem muito mais empenhados numa cruzada política do que numa operação policial.
Deve haver na PF delegados com a isenção indispensável para averiguar os fatos, ao contrário dos que faziam campanha anti-Dilma.
Se não houver, teremos um problema infinitamente maior do que o escândalo da Petrobras.
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