quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mídia brasileira está 10 anos defasada no debate político


GGN

Comentário referente ao post Dilma, a regulação dos oligopólios de mídia e as meninas do Jô

A mídia brasileira está defasada no debate político uns 10 anos

A verdade é que a mídia brasileira, isso de uma forma geral, está defasada, desinformada mesmo, no debate político sobre o cenário internacional em pelo menos uns 10 anos. Isso vale tanto para a grande imprensa quanto para a blogosfera. Os jornalistas brasileiros são de uma pobreza nas análises políticas impressionante e o exemplo na cobertura sobre o bolivarianismo é emblemático nesse sentido. O que a grande imprensa brasileira hoje reverbera sobre o assunto é o que sujeitos como Olavo de Carvalho falavam há 10 anos quando se debruçavam sobre entidades como o Foro de São Paulo, o que é evidentemente uma piada e mostra a pobreza política das análises que campeiam na grande imprensa brasileira, a qual sempre foi limitadíssima ao analisar o cenário latino americano, sul-americano em particular. A mesma coisa pode ser dita sobre a situaçãoa na Ucrânia e sobre o cenário político russo, dos quais os órgãos de imprensa brasileiros sabem muito pouco. Por exemplo, a imprensa brasileira, inclusive a blogosfera, sabe muito pouco sobre figuras complexas como Putin, o que ajudou a produzir lamentáveis análises por parte de setores de esquerda que encamparam, ridicularmente, a ideia de que Putin seria um contraponto à esquerda ao neoconservadorismo dos EUA, o que evidentemente é falso e mostra o grau de desinformação que marca o jornalismo político brasileiro.

Por incrível que pareça, Olavo de Carvalho e até mesmo Júlio Severo estavam mais informados sobre Putin do que 99% dos que escreveram sobre ele na grande imprensa e na blogosfera durante a crise da Ucrânia, que ainda se arrasta. Os analistas mal sabiam o que significava eurasianismo e ainda hoje não sabem o que é a Tradição de que falam autores como Dugin, que recentemente esteve no Brasil e deu palestaras na USP num encontro evoliano, organizado, de uma forma um tanto amadora, sem grande apoio político ou financeiro, por estudantes de filosofia em homenagem ao pensador italiano Julius Evola, ao lado de Alan Soral, ativista francês um tanto maldito em seu país, que é inclusive alvo de acusações de antissemitismo. O Encontro Evoliano é organizado com interesses puramente acadêmicos, sem maiores pretensões políticas. Eu conheço inclusive a pessoa que organiza, que é doutoranda em filosfia pela USP e é natural de João Pessoa, na Paraíba, Dídimo Matos. Quem hoje tenta escrever com um mínimo de propriedade sobre a Ucrânia, Putin e que tais é Pepe Escobar, que também corre atrás do prejuízo, um tanto tardiamente comparecendo à festa. Enfim, no Brasil, os jornalistas estão defasados no debate e patinam para entender o cenário político internacional que emergiu de dez anos para cá.

O bolivarianismo, por exemplo, é muito pouco compreendido no Brasil. Não existem grandes estudiosos sobre o assunto. Os jonalistas europeus, a exemplo dos ingleses Robert Fisk, do The Independent, e John Pilger, do The Guardian, escreveram ao longo dos últimos anos e no período de maior efervescência, artigos muito interessantes sobre a situação na Venezuela e na Bolívia do que um dia fizeram os órgãos de comunicação brasileiros, o que é realmente uma vergonha para o jornalismo político brasileiro e para os próprios grupos de esquerda brasileiros. Sem falar de monumentais jornalistas independentes, como o americano Alexander Cockburn, do CounterPunch, infelizmente falecido de câncer no ano passado, um dos melhores exemplos do que é fazer jornalismo verdadeiramente independente e de qualidade, engajado politicamente, sempre na vanguarda. Esses caras escreveram artigos realmente elucidativos sobre o cenário político Venezuelano e sobre o bolivarianismo de uma forma geral nos últimos 10 anos que no Brasil os leitores simplesmente não tinham acesso a partir de textos de jornalistas brasileiros. Era preciso estar atento ao órgãos de imprensa internacionais para se informar melhor sobre o que estava acoantecendo, seja no Resistir.Info, site português que publicava artigos traduzidos desses jornalistas, seja diretamente nos sites dos órgãos de imprensa internacionais.

Eu vi no vídeo o Jô Soares falar sobre um suposto contato do MST com grupos venezuelanos, notícia que foi recentemente divulgada, em tom alarmista, no Brasil, por jornalistas como Cláudio Tognolli, que é da turma que faz oposição raivosa e direitista um tanto paranóica na linha defasada que eu apontei anteriormente. O pior é constatar que ese espírito era o mesmo que existia nos escritos de Olavo de Carvalho de 10 anos atras, lá por 2004, por aí. Ou seja, a grande imprensa está pautada por visões distorcidas e nada embasadas sobre o bolivarianismo, vendendo preconceitos e ideias falsas, sem sequer fazer um trabalho jornalístico sério mínimo que seja."

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