quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aumentar a taxa SELIC realmente reduz a inflação?



Há anos leio na imprensa que o aumento da taxa básica de juros, a taxa Selic, resulta numa diminuição da inflação. Sempre fiquei na dúvida se isso seria realmente verdade.

Por essa razão, decidi fazer uma pequena análise da variação da taxa Selic em comparação com a variação da inflação nos anos de 2013 e 2014, para verificar se realmente um aumento nessa taxa produz uma redução na inflação.


O que é a taxa Selic?
É a menor taxa de juros da economia brasileira e serve de referência para as taxas de juros de uma série de operações bancárias. Quando a taxa Selic aumenta, em geral, os bancos aumentam os juros de empréstimos e do cartão de crédito.

Com os juros mais altos, as compras a prazo ficam mais caras e o consumidor tende a consumir menos. É dessa forma que o governo age para tentar frear a inflação.


Como é medida a inflação?
A inflação é medida através de "índices de inflação", que são indicadores que medem a variação média dos preços de um conjunto fixo de produtos num conjunto de regiões.

Os principais índices no Brasil são o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), medido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O IPCA é utilizado como o indicador oficial da inflação no Brasil. Segue uma explicação de como esse índice é produzido:
Medido entre os dias 1º e 30 de cada mês, o IPCA reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, Distrito Federal e Goiânia. São consideradas as variações de preços dos itens de uma cesta de compras que é montada com base nos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Extraído do seguinte link.

Reduzir a Selic realmente reduz a inflação?
Fiz uma pequena análise nos dados do IPCA ao longo de 2013 e 2014, assim como também no valor da taxa Selic ao longo dos dois anos.

O gráfico abaixo possui 3 linhas. A linha rosa representa a estimativa da inflação para o ano, com base na inflação acumulada até aquele mês. Por exemplo, a inflação em janeiro foi de 0,86%, um índice bem alto, que levaria a uma inflação de 10,32% anual.

A linha azul representa a taxa Selic. A linha amarela representa o teto da meta da inflação para o ano de 2013, que foi de 6,5%.


Ao longo dos 4 meses iniciais de 2013, a taxa Selic foi mantida em 7,25%. Nesse período houve uma redução na inflação. Entre maio e setembro, quando a taxa foi aumentada em todos os meses, a estimativa da inflação continuou em queda.

De outubro a dezembro, apesar de a Selic continuar subindo mês a mês, os índices de inflação também subiram.

O gráfico abaixo mostra os mesmos dados para 2014. Neste ano a variação da Selic foi bem menor em comparação com 2013. O teto da meta para o ano é também de 6,5%.

Percebe-se que até abril, a inflação permaneceu em alta, mesmo com dois aumentos seguidos na Selic. De maio em diante, percebe-se uma queda consistente da inflação que se mantém até o momento.

Com base nos dados analisados, é possível perceber que o impacto real do aumento da taxa Selic para conter a inflação não parece ser tão forte quanto o governo e a imprensa costumam nos dizer. Por outro lado, é muito difícil estimar o real impacto sobre a inflação de um aumento de 0,25% ou 0,5% nessa taxa.


O que causa da Inflação?
A inflação pode ocorrer por muitas razões. Os dois principais tipos de inflação são a de oferta e a de demanda.

A inflação de oferta ocorre quando um determinado produto se torna escasso no mercado. Como há menos produtos para vender, os donos das mercadorias elevam os preços dos produtos para que possam ter um lucro minimamente aceitável para eles.

Essa escassez pode ocorrer em muitas situações. 
  • Uma grande seca pode prejudicar a lavoura de um produto. 
  • A falta de água na torneira por um longo período pode exigir que as pessoas comprem água a preços altíssimos em caminhões pipa. 
  • O etanol pode tornar-se mais escasso num momento em que exista um lucro bem mais alto na produção de açúcar pelas usinas.
A inflação de demanda ocorre quando o poder aquisitivo da população de uma região está alto o suficiente para que a demanda por um determinado produto ou serviço se torne maior que a oferta existente.

Imagine que numa cidade pequena há um restaurante de boa qualidade que, pelo preço que cobra, consegue manter uma lotação de 60% em média na hora do almoço. Num determinado momento, várias grandes empresas são abertas ao mesmo tempo nessa cidade, gerando muitos empregos bem remunerados. O restaurante passa a estar sempre lotado. Com isso, os donos do restaurante têm a segurança de que se aumentarem um pouco o preço do almoço, manterão muitos clientes e um lucro melhor que o anterior. O mesmo farão os empresários de vários outros setores que aumentaram o número de clientes.

Após o lançamento do Minha Casa Minha Vida, os preços dos imóveis e terrenos aumentaram bastante de preço, pois a capacidade da população de comprá-los aumentou bastante de uma hora para outra.

Há uma infinidade de outros fatores que podem resultar no aumento do preço dos produtos disponíveis no mercado.
  • Com a subida do dólar, matérias primas importadas tornam-se mais caras, exigindo um aumento nos preços.
  • Um aumento no preço da gasolina elevará o custo do transporte de produtos, que por sua vez eleva o preço deles.
  • Ao elevar o salário de seus funcionários, os custos de uma empresa se elevam e ela repassa esse aumento para os seus produtos e serviços.
Com tantos fatores influenciando nos preços dos produtos dá para perceber o quão difícil é manter a inflação sob controle. A simples redução da taxa Selic, desestimulando o consumo, não parece ser capaz de frear a inflação.
http://fabiano-amorim.blogspot.com.br/2014/11/aumentar-taxa-selic-realmente-reduz.html

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