A eleição de Barack Obama foi importante para os Estados Unidos e para o mundo após a ressaca dos anos Bush e como contraponto a movimentos conservadores perigosos, estilo Tea Party, mas sua figura, por enquanto, é para consumo interno e não para discurso na Cinelândia.
Obama tem feito esforços louváveis, como ampliar a cobertura de saúde aos americanos, mas na política externa deixa a desejar. Durante sua campanha à presidência dos EUA, prometeu fechar a prisão de Guantánamo, em território cubano, e não só não cumpriu, como proibiu a transferência de suspeitos de terrorismo presos lá para julgamento nos EUA. Centenas de pessoas continuam presas em Guantánamo sem acusação formal, acesso a advogados e a julgamento.
O seu governo foi uma barreira na tentativa de resolução da questão nuclear iraniana, promovida pelo Brasil e pela Turquia, e pressionou constantemente o Brasil a condenar o Irã na ONU, enquanto não levantava uma objeção sequer aos governos da Tunísia, Egito, Líbia ou Bahrein, só para citar os mais convulsionados recentemente por revoltas populares contra dominações despóticas. Obama manteve o mesmo critério seletivo sempre adotado pelos EUA para suas condenações a outros governos.
Na relação comercial, os produtos brasileiros são altamente taxados, enquanto os EUA subsidiam sua produção agrícola de forma lesiva à concorrência internacional. Não raro é preciso ir à Organização Mundial de Comércio, onde o Brasil obteve condenações importantes à política protecionista dos EUA.
O que justifica, então, um discurso público de Obama no Rio, em plena Cinelândia, palco de grandes manifestações políticas de nossa história? Nada, além do interesse norte-americano de vender mais produtos ao Brasil e mostrar que dá alguma importância ao país e à América Latina, além da quarta frota que nos ameaça.
Para atrair público haverá show musical, e “espelhinhos” já estão sendo distribuídos aos “índios”, como iPads ofertados pela embaixada dos EUA. É tudo jogo de cena, com o deslumbramento da mídia tupiniquim, que aproveita para reforçar seu discurso do que seria uma mudança de orientação da política externa brasileira com a substituição de Lula por Dilma.
Nos últimos anos, o Brasil passou a ter uma política externa soberana, que elevou sua importância no cenário internacional e incomodou os Estados Unidos. As questões que realmente importam entre Brasil e EUA serão debatidas por seus diplomatas. Obama não tem nada a dizer ao povo brasileiro. Seria bom que a UNE e outros setores organizados aproveitassem a irreverência do Carnaval recém-encerrado para protestos bem humorados. Afinal, a praça ainda é do povo, apesar do forte esquema de segurança que está sendo montado na Cinelândia.
Mair Pena Neto. Jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia
By: Contraponto PIG
Nenhum comentário:
Postar um comentário