sábado, 14 de agosto de 2010

O crime não compensa


Sou de uma geração que foi ensinada pelos mais velhos a acreditar que o crime não compensava. Minha mãe, Joanna, mulher de grande cultura, advogada, socióloga, fluente em sete idiomas (inclusive no Esperanto), educada no Sion (tradicional escola para moças de São Paulo), sempre me orientou a buscar o bom caminho, o caminho da verdade, que dizia ser uma força da natureza como o vento ou a chuva, a qual é impossível conter.

Cresci em um país no qual foi prevalecendo uma cultura nefasta que pregava a esperteza, o atalho ilícito para o sucesso, o desprezo pelos valores democráticos, pela justiça, pelo ser humano. Consternado, passei a vida vendo muitos defenderem abertamente o logro, a capacidade de embromar o próximo e dele tirar o maior proveito no menor espaço de tempo.
Tenho cinqüenta anos e uma vida modesta, uma família estruturada e a intenção firme de terminar os meus dias apenas com isso. Meus três filhos crescidos não precisarão de herança ou de bens – que não deixarei porque não os tenho – porque herdarão cultura e valores democráticos e humanistas que lhes transmiti desde o berço até que a lucidez os iluminasse com o amadurecimento.
Em vez de vir fazer análises sobre a vitória da verdade que coroou a semana de todos os homens e mulheres decentes deste país imenso e promissor, portanto, venho aqui lhes garantir, apenas, que a esperteza que este país cultuou durante tanto tempo, e na qual tantos crêem com fervor messiânico, é uma farsa, porque a verdade, a sinceridade, a decência, a honradez, como valores preponderantes em nossas vidas, são insuperáveis.
Palavras, palavras, dirão os que se opõem aos pedidos desesperados que faço por menos “esperteza” e mais bom senso. Digo que não me crêem quando afirmo que o crime não compensa porque não entendem o que é o crime intelectual, produto da desonestidade intelectual, da vilania intelectual, da falta de humanidade intelectual.
Só lamento uma coisa, após cinco décadas de vida: não ter conseguido elaborar um meio de explicar que não sou “babaca” por defender o império da verdade. Para além da retórica que tantos adotam em favor de tais valores, não me compreendem quando digo que não os defendo só da boca para fora e sim porque neles creio com pureza d’alma. No dia em que eu não passar por “babaca” por pensar assim, o Brasil será muito melhor.
blog da cidadania

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