O resultado da intervenção soviética, principalmente na Hungria e na Tchecoslováquia, foi que o modelo dominante de revolta para os jovens ficou sendo o nacionalismo à antiga, pré-Segunda Guerra Mundial, e não o modelo libertário do pós-guerra na França e em outros países. Portanto, nas origens do fascismo que volta na Europa Central com todos os seus maus costumes — antissemitismo, perseguição a ciganos e outras minorias etc. —, está o mesmo exército que resistiu heroicamente à máquina de guerra nazista e ajudou a derrotá-la.
Os milhões de russos mortos na luta contra o fascismo não estão achando muita graça.
Outra da História: a reforma agrária no Japão, que desmantelou uma estrutura feudal de séculos e serviu de exemplo para outras reformas parecidas, não foi obra de nenhuma esquerda, mas do general americano que mais se assemelhava a um senhor feudal, Douglas McArthur, imperador de fato do Japão durante a ocupação depois da Segunda Guerra.
Outra: se o capitalismo praticado na Alemanha atual e seus arredores econômicos — leia-se a União Europeia — é mais democrático do que o americano, com maior participação de empregados no controle de empresas, isto também se deve à derrota do fascismo e a questões geopolíticas decorrentes da Segundona.
Ainda vivemos todos num post-scriptum de 1945. Assim como McArthur quis acabar com o poder de uma aristocracia que instigava os sonhos imperiais do Japão, os americanos encorajaram os alemães a desenvolver um mercado socialmente responsável, distributivista, se é que existe a palavra, completamente diferente do seu próprio complexo industrial-militar, para descentralizar a economia e impedir a volta do poder a grandes industrialistas como os que tinham apoiado Hitler.
Aquela frase sobre escrever direito por linhas tortas, ou escrever torto por linhas bem intencionadas, diz respeito a Deus, mas também se aplica à História. No fim, são dois gaiatos.
Luis Fernando Veríssimo
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