domingo, 8 de agosto de 2010

Debate não é arena de gladiadores

Os cadernos de política de Globo, Folha e Estadão foram dedicados quase que integralmente à análise do debate de quinta-feira. Miriam Leitão não teve dúvidas e iniciou sua coluna com uma afirmação peremptória: "Serra venceu o debate". E observou que Dilma "poucas vezes assumiu postura presidencial".

Dora Kramer, do Estadão, não deixou por menos. Chamou Dilma de nervosa, insegura, antipática, sobressaltada e fora d"água.

As duas também elogiaram a petista, sobretudo no quesito "beleza" e "elegância". Dilma pode se candidatar a modelo, mas não a presidente. 

Mas o que está me incomodando mesmo é esta transformação do debate numa arena de vida ou morte. A quem isto interessa?

Evidentemente, a Serra. 

Um candidato que tenha um bom desempenho num debate não necessariamente será o mais adequado ao cargo de presidente da República.

A imprensa, subitamente, tornou-se fanática adepta do "personalismo" na política. 

O melhor candidato não é aquele que sabe aplicar a melhor armadilha contra o opositor, num debate ao vivo, cheio de regras draconianas que, se evitam riscos de um lado, limitam a possibilidade do candidato se defender. Um candidato acusa o outro de uma coisa e como se poderá responder em apenas um ou dois minutos? 

Se um candidato perder a voz, por exemplo, será o fim dele?

Tanto o debate não é tão importante como se alardeia que a população não mostrou grande interesse pelo evento, que registrou apenas 3 ou 4 pontos no Ibope, ficando atrás do Globo, do SPT e da Record. E porque o povo se desinteressou tanto? As pesquisas dos principais institutos não revelam todo este desinteresse. Há interesse no processo eleitoral. Mas não necessariamente em debates. 

O que torna um candidato qualificado para o cargo de presidente da república são suas propostas, alianças partidárias, perfil ideológico, e não a sua esperteza e sangue frio num debate ao vivo. 

Não se pode querer que Dilma se transforme, do dia para noite, numa gladiadora invencível. 

Dilma é uma mulher forte, disso ninguém duvida. E competente também: seu trabalho à frente da Casa Civil respondeu por grande parte do sucesso do governo Lula nos últimos cinco anos. 

Os áulicos de Serra na mídia, por outro lado, tem consciência das imensas fragilidades da candidatura tucana: os poucos aliados do tucano abandonam o navio, suas propostas são incoerentes e oportunistas, mostrou-se um político indeciso e desastrado em diversas ocasiões, é grosso com jornalistas. A única chance de Serra está nos debates. Experiente, cínico e mau caráter, Serra não hesitou em politizar a delicada questão das crianças especiais. O importante é pegar Dilma. As Apaes foram usadas eleitoralmete, sobretudo por parte de sua Federação, presidida por Eduardo Barbosa, deputado federal pelo PSDB mineiro. 

O mais grave em Serra, contudo, é sua postura tacanha em política internacional.

Esta semana mesmo, o americano Mark Weisbrot, um think tank de peso no eixo EUA-Europa, fez uma acusação muito séria à Serra que nenhum colunista político repercutiu. Weisbrot criticou duramente a política externa do tucano, e afirmou que suas declarações fazem dele um representante submisso de Washington. 

A eleição de Serra, isso todo mundo já percebeu, produziria uma enorme instabilidade política em toda América Latina. Sim, porque Lula sabe se relacionar com a direita do continente. Manteve boas relações com Bush, Uribe e Calderón, presidentes conservadores dos EUA, Colômbia e México. Serra, contudo, antes de ser presidente, já comprou briga e ofendeu gravemente os mandatários da Bolívia, Venezuela e Irã.
óleo do diabo

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