domingo, 8 de agosto de 2010

Nada de novo na Ipiranga com a São João



São Paulo é um gigante complexo. Não é fácil de governar. A desigualdade, o crescimento geográfico sem planejamento e todas as complicações decorrentes deste gigantismo podem ser quase impossíveis de administrar. Mas uma coisa é certa: os sucessivos governos do PSDB não chegaram nem perto de atender as demandas mais urgentes do estado. Todos os índices estão aí, no DIEESE, FGV, PNAD etc, para serem analisados.

Quantos mandatos mais precisará o cidadão paulista para ver a realidade do estado onde vive sem o verniz das campanhas publicitárias e sem a cortina midiática que durante mais de 16 anos lhe esconde os imensos fracassos administrativos do PSDB? 
A cada ano, os índices sociais mergulham São Paulo mais fundo no poço do caos urbano. Parece que isto nunca mudará e o futuro reserve apenas um logotipo da Globo cravado sobre o pescoço de cada cidadão paulista para todo o sempre. E, pior ainda, talvez este cidadão prefira que seja assim: há décadas recebe visão e opinião “próprias” devidamente mastigadas e prontas para sua digestão mental.

Na São Paulo dos últimos 20 anos, mais do que em qualquer outro lugar ou qualquer outra época, as coisas “sempre foram assim, mas agora melhoraram”. Essa é a síntese da visão mais comum do paulista sobre seu estado. Goebbels, se estivesse vivo e estivéssemos em plena ascensão do nazismo, viria a São Paulo para estudar as técnicas de lavagem cerebral que as quatro famílias donas da mídia impõem a este cidadão de forma tão eficaz e por tanto tempo.

O paulista não é burro. Vê sua realidade pelo prisma ilusório de uma combinação de fatores: São Paulo, sempre considerado o estado-locomotiva do país, superdimensiona-lhe o ego mas não traduz sua grandeza em progresso do organismo social como um todo. O crescimento desordenado e escancarado confunde o inchaço físico e as contradições sociais com desenvolvimento. O volume de capital e transações financeiras centralizadas no estado não promovem benefícios à população: apenas concentram renda nas mãos de uma elite cada vez mas compacta.

O paulista incorpora estes valores artificiais e considera-se superior aos demais brasileiros. Mesmo que ao sair de casa, sofra toda espécie de violência na própria pele. Quanto mais apanha, mais cresce sua convicção de que os governantes do estado “fazem o melhor possível e o que estraga são os imigrantes”. Por isso são fortemente separatistas – negando que o estado é o que é graças aos imigrantes de todas as partes, inclusive de outros continentes – que o construíram.

Os avanços sociais de Lula não alcançaram São Paulo na mesma medida do resto do país. Serra, Alckmin e sua mídia barraram ou esconderam os reflexos do governo petista em SP. Foi a única maneira de conservar seu “capital eleitoral paulista”. Não fosse isso, desapareciam do mapa de forma fulminante em menos de 4 anos.

Existem eleitores paulistas que nasceram no golpe de 64 e cresceram na ditadura. Quando finalmente, receberam o direito ao voto, elegeram os candidatos do PSDB seguidamente. Não possuem nenhum critério comparativo de outras gestões. O PSDB é a mãe que protege São Paulo dos “males externos”. É a última trincheira de combate ao bicho-papão que “come” o resto do país. Orgulham-se de afirmar com todas as letras, em alto e bom som que “aqui, o PT não entra!”

A mentalidade privatista dos governos paulistas se aprofunda a cada novo mandato. Fleury, Covas, Alckmin, Serra, Maluf, Pitta, Kassab, Serra, Alckmin novamente… Mudam-se as placas nas portas dos gabinetes e atualizam-se as datas e assinaturas dos contratos de terceirização dos serviços à população. Desenha-se um novo logotipo para a gestão, cria-se um slogan qualquer (“Cada vez melhor”, ou “Trabalhando por você”) e – ufa! – resta apenas a tarefa de assinar cheques de pagamentos às empresas contratadas. Resumindo: os tucanos “enxugam” suas obrigações governamentais, terceirizando-as. E como os serviços contratados não são usados pelas elites, se lixam para o custo-benefício ou a qualidade. Importante mesmo para eles é livrarem-se das obrigações para as quais foram eleitos. Quer segurança? Contrate particulares. Quer educação? Contrate particulares. Quer saneamento? Mude para outro bairro. Quer Saúde? Adquira um plano de saúde. Quer boas estradas? Pague pedágios. Quer transporte? Ande de helicóptero. Quer cultura na TV? Assine TV a cabo!

Ontem li a notícia de que a TV Cultura – que originalmente deveria ser financiada pelo estado e ter autonomia em sua programação – anunciou que vai demitir 1.400 dos 1.800 funcionários. A atual diretoria também pretende vender as instalações no bairro da Água Branca e transformar a emissora, que é uma concessão pública à Fundação Padre Anchieta, num fantasma sem corpo físico ou mental. Na mesma linha das privatizações de outros bens e serviços públicos, vai comprar conteúdos produzidos externamente. Em outras palavras, parodiando a teoria do “estado mínimo” do PSDB, a TV Cultura será a primeira “emissora mínima, enxugada”.

Espero que tenham a sensatez de manter seu acervo memorial. Os tucanos, e sua mentalidade elitista, destruíram, ao longo dos seus mandatos, este que foi um dos melhores pilares da cultura de massa paulista que já existiu. A TV Cultura tinha, disparado, a melhor programação da TV aberta para todas as faixas etárias. Especialmente os dirigidos ao público infanto-juvenil, que deixavam Xuxa e seu Xow no Xinelo. Mesmo que sua audiência não fosse grande coisa, estava lá, ao alcance, no controle remoto, para quem quisesse assistir.

Poderia discorrer aqui sobre diversas perdas que vitimaram este estado nos últimos 20 anos. Mas quero crer que exista a possibilidade de mudar-lhe o destino nas eleições deste ano. Quem sabe?

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