Existe alguma luz no final do túnel? Por Venício A. de Lima | |
Há menos de dois meses escrevi na Agência Carta Maior que "as forças políticas que, de fato, há décadas, exercem influência determinante sobre as decisões do Estado no Brasil, consegui(ram) que o governo recuasse em todos os pontos de seu interesse contidos na terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (Decreto n. 7.037/2009). Refiro-me, por óbvio aos militares, aos ruralistas, à Igreja Católica e, sobretudo, à grande mídia" (ver "PNDH-3: a grande mídia vence mais uma"). O poder de algumas dessas forças se manifesta novamente, agora em relação ao programa da candidata à presidência da República que é apoiada pelo atual governo e representa sua continuidade. Imediatamente após a entrega de seu programa no Tribunal Superior Eleitoral, a grande mídia passou a nomeá-lo como "polêmico" e/ou "radical". Horas depois, o comando da campanha decidiu alterar vários trechos do programa originalmente entregue e registrado no TSE. Interessam-nos aqui, em particular, os pontos que se referiam à democratização da comunicação. O quê, afinal, a grande mídia considera propostas "polêmicas" e/ou "radicais"? As propostas originaisO programa original partia do diagnóstico de que "apesar dos avanços dos últimos anos, a maioria da população brasileira conta, como único veículo cultural e de informação, com as cadeias de rádio e de televisão, em geral, pouco afeitas à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático" e propunha políticas que buscassem: ** Ampliação da rede de equipamentos, como centros culturais, museus, teatros e cinemas, política que deve estar articulada com a multiplicação dos pontos de cultura, representando amplo movimento de socialização cultural; ** Iniciativas que estimulem o debate de idéias, com o fortalecimento das redes públicas de comunicação e o uso intensivo da blogosfera; ** Medidas que promovam a democratização da comunicação social no país, em particular aquelas voltadas para combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento. Além disso, reconhecia e apoiava propostas aprovadas na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, tais como: ** o estabelecimento de um novo parâmetro legal para as telecomunicações no país; ** a reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social; ** o fim da propriedade cruzada; ** a exigência de uma porcentagem para a produção regional; ** a proibição da sublocação de emissoras e de horários; e ** o direito de resposta coletivo. Constitucionais e democráticasComo se vê, não há absolutamente nada nessas propostas que contrarie o melhor espírito dos princípios e normas que foram consagrados pela Constituição de 1988 [cf. os artigos de 220 a 224] e que têm como objetivo garantir a universalidade da liberdade de expressão e a diversidade e a pluralidade nos meios de comunicação. O que pode ser mais democrático do que isso? Nunca será demais repetir, todavia, que, no setor de comunicações, vivemos um formidável atraso em relação ao debate e às medidas de regulação estabelecidas e praticadas nas principais democracias contemporâneas. A força dos grupos tradicionais de mídia entre nós tem conseguido impedir qualquer avanço. Há décadas. Até quando persistirá essa absurda assimetria brasileira em relação a outros países democráticos? Afinal, as próximas eleições presidenciais representam ou não a possibilidade de alguma luz no final do túnel? Carta maior |
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Regulação da mídia
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