O relacionamento da grande imprensa com o Serra beira o sado-masoquismo. É impressionante como os grandes órgãos da imprensa brasileira são capazes de conviver com os arroubos autoritários do ex-governador sem os criticar, e ainda os ignorar.
Todas as críticas que foram dirigidas ao Governo Federal quando resolveu lançar a TV Brasil foram baseadas na premissa de que o “aparelhamento” do PT no governo iria produzir uma televisão chapa-branca, cuja programação e linha editorial seriam controladas pelos radicais do partido. O tempo serviu para mostrar que a TV Brasil é muito menos suscetível à interferência política do que a TV Cultura, cuja administração é nomeada pelo governo do Estado de São Paulo, e onde atitudes arbitrárias não são combatidas pela máquina corporativa das associações de imprensa, como a Abert por exemplo.
Os editoriais dos jornalões e perguntas insistentes de seus jornalistas se apegam em interpretações enviesadas do significado de controle social de mídia, distorcendo a intenção original de criar mecanismos para melhoria do nível do conteúdo de programas de televisão por parte de setores organizados da sociedade civil, confundindo deliberadamente com tentativa de cercear a liberdade de imprensa, mote que atualmente tem servido de escora para a manutenção de privilégios de imunidade para mentir e caluniar impunemente.
Ao mesmo tempo em que tentam sepultar qualquer tentativa de modificação que represente perda de seus privilégios, mesmo que estes sejam imorais, os neodefensores da liberdade de imprensa – que trabalham para empresas que durante a ditadura militar deram sustentação a um regime que fechou jornais e perseguiu, torturou e matou colegas de profissão – se calam diante da postura autoritária de José Serra, que manda demitir jornalistas que se atrevam a tratar de assuntos que sejam considerados como pontos frágeis de sua administração.
O autoritarismo de Serra e sua intolerância ao contraditório estão presentes nas repostas deselegantes até contra profissionais que devotam fidelidade ao seu projeto de poder. Serra é capaz de ligar para um dono de jornal pedindo a cabeça de um jornalista que o contrariou, imagine o que ele não pode fazer aonde mantém controle direto, como a direção da TV Cultura, que está na mão do seu vice, que o sucedeu.
Soa hipócrita uma defesa pretensamente apaixonada da liberdade imprensa contra o que teoricamente para eles poderia ser risco no futuro, quando ignoram evidências no presente.
A preocupação da velha mídia com o futuro da liberdade de imprensa exclui os funcionários da TV Cultura. Por lá, não tem problema se jornalistas são demitidos por interpelarem com “assunto indesejado” o candidato apoiado pelo governo ou por elaborarem reportagens mostrando as fraquezas da administração, mesmo que estes profissionais tenham sempre sido “leais” à linha editorial ditada por pessoas de confiança do governo do estado de São Paulo.
Neste caso, o silêncio dos hipócritas é ensurdecedor.
By: Blog do Len, via Com Textolivre
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