O país já se acostumou a ver membros das altas esferas do Poder Judiciário darem declarações públicas de viés partidário. Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello são os dois maiores expoentes desse tipo de conduta. Todavia, se formos analisar o trabalho do Supremo Tribunal Federal, notar-se-á que os arroubos persecutórios desses juízes contra Lula e o PT nunca tiveram maiores conseqüências.
Há membros e membros do Poder Judiciário. Tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o Tribunal Superior Eleitoral são colegiados. O fato de abrigarem membros espalhafatosos e dispostos a gerar fatos políticos do interesse dos seus benfeitores – como no caso de Gilmar Mendes, que se tornou juiz da Suprema Corte graças a FHC – não significa que tenham força para levar aquele colegiado às decisões que gostariam.
O silêncio da geração de juízes do STF – e que integram o TSE – nomeados por Lula mostra que não se prestam a fazer serviços políticos. Prova disso está nas recusas e nas concordâncias da Justiça Eleitoral com as representações dos tucanos contra Lula e Dilma Rousseff. Apesar da judicialização do processo eleitoral desencadeada pela campanha de José Serra, o Tribunal Eleitoral tem mostrado que a força dos conservadores na Justiça já não é mais aquela.
Há um misto de desespero, devaneio e pseudo estratégia política nas ameaças da direita de melar o processo eleitoral impedindo Dilma de disputar uma eleição que as pesquisas já mostram – mesmo que não sejam mostradas – que pode ser definida no primeiro turno a favor da candidata petista.
Além disso, Serra fez coisa igual ou pior do que essa de que acusam Lula enquanto sonham com uma vitória eleitoral no tapetão. Fez pior porque Lula fez num evento qualquer como o do trem-bala e Serra, fez na TV, no horário eleitoral de seu partido na Bahia, o que fez o TSE multá-lo na terça-feira passada (6/7) por “propaganda antecipada”. A mídia, aliás, não divulgou. Enquanto noticiava as multas de Lula e Dilma sem parar, escondia a multa de Serra.
Desta maneira, a Justiça Eleitoral teria que cometer a enormidade de tratar Dilma e Serra de formas diferentes, pois se cassar um terá que cassar o outro, de forma que as declarações da vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau aludindo a pedido de cassação da candidatura da petista, não acredito nada, nada que seriam acolhidas pelo plenário do TSE.
Em vez de me preocupar com os devaneios golpistas e com a disposição de membros do Judiciário para aparecerem mais do que a jabulani na Copa ou para criarem fatos políticos para o consórcio demo-tucano, prefiro ver o lado bom desse caso das ameaças de impugnarem a candidatura de Dilma.
O flerte com o golpe judiciário confirma notícias como a veiculada pelo colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues, de que em pesquisa nacional com três mil pessoas que o PT teria encomendado a petista teria 43% das intenções de voto e Serra, 36%. Pode ser isso, pode ser mais, mas a notícia também combina com uma certa euforia que está se vendo no PT e com o crescente mau-humor que o tucano vem expondo publicamente.
Em minha opinião, essa conversa sobre cassar Dilma será entendida por muita gente como tentativa de candidatos em desvantagem de usarem seus amigos no Judiciário para melar o jogo. Tudo se resume àquelas duas apostas que venho dizendo que se confrontarão neste ano. Serra e o PSDB apostam que o povo é burro e Lula, Dilma e o PT apostam que é muito mais esperto do que supõe a direita brasileira.
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