sexta-feira, 15 de abril de 2011

Religião não; Mitologia


Que tal acrescentar mais um deus?
Existe uma antiga frase que diz: religião não se discute!
Eu não sei ao certo quem a forjou e com qual intenção, mas sempre tinha achado que havia sido alguém que chegara à conclusão que uma discussão entre fé e razão não avançava. Era perda de tempo.
Se antes era essa a razão da origem da frase, hoje me parece que ela tem sido usada para manter as religiões fora do alcance das críticas e da justiça. Digo mais. Certamente quem forjou a tal frase era um teísta e não um ateísta.....

Devido ao crescimento do islã fundamentalista, seu combate em implantar a sharia por onde passe e suas ações terroristas conta “infiéis”, assim como a intromissão das religiões cristãs em assuntos de estado, através notadamente da sua intenção em mitigar a liberdade civil e impedir várias pesquisas científicas, surgiu o movimento neo-ateísta. Este movimento rompe a trégua, imposta pelos religiosos, e traz à tona a urgência de um enquadramento adequado das práticas e dogmas religiosos.
Graças a isso mais e mais pessoas, os neo-ateístas, passaram a confrontar os dogmas infundados e insanos e a estimular uma discussão que andava sufocada. Eu mesmo acho que onde há inteligência tudo pode ser discutido.
Portanto religião, sim, se discute.
Tenho participado ativamente de discussões em blogs criados com o fim de divulgar o secularismo humanista e o ceticismo, e tenho observado, vezes a fio, o que diz Sam Harris: “…embora acreditar firmemente em algo, sem ter provas, seja considerado um sinal de loucura ou estupidez em qualquer outra área da nossa vida, a fé em Deus continua mantendo imenso prestígio em nossa sociedade. A religião é a única área do nosso discurso na qual se considera nobre fingir ter certeza, acerca de coisas que nenhum ser humano é capaz de garantir que estejam certas”.
Eu tenho travado debates intermináveis com crentes de diversos credos, pois, infelizmente para eles, as religiões, embora baseadas sobre o dogma da fé, têm que serem discutidas sob a ótica da razão, se quiserem ser levadas a sério e conquistar, num futuro próximo, um lugar nas sociedades esclarecidas.
É impossível querer fazer valer a fé em uma discussão sensata. Não há nada que justifique o fato de um observador externo e imparcial julgar que a fé cristã tem mais valor ou credibilidade que a fé mulçumana ou judaica. Como esses credos se contradizem em inúmeros pontos, uma observação honesta e imparcial não pode preferir um em detrimento de outro.
Como saber o que é certo ou errado a respeito da fé se ela não é baseada em evidências?
Cada uma dessas religiões diz ter ouvido do próprio deus, ou de um de seus porta-vozes, a mensagem que foi transcrita para o texto sagrado.
Supomos que eu digo no jornal da TV que eu descobri a cura do câncer, ou como reverter o aquecimento global, ou como emagrecer comendo de tudo e muito, ou como transformar ferro em ouro, ou ainda a fórmula da eterna juventude, mas que não vou mostrá-las a ninguém e nem vou usá-las em benefício próprio. Digo que as tenho na memória, que não as passarei a ninguém e que morrerei com elas.
Como saber que eu estou dizendo a verdade, se eu não dou provas e continuo sem dinheiro, gordo e velho? Porque acreditar em algo sem que se tenha uma única prova disso? Na verdade, qual é a diferença entre ter ou não ter essas provas se eu não provo que as tenho? Não há diferença não é mesmo?
Pois bem. É assim a crença em deus. As pessoas dizem que deus criou o universo, as forças da natureza, os seres vivos, a alma e tudo o mais, mas não dão provas disso. Como saber se isso é verdadeiro sem ter provas? Qual é a diferença entre deus existir ou não existir se não há provas de sua existência? Seriam provas a Bíblia, o Corão ou a Torá? Como alguém que goze de perfeito juízo pode acreditar que as estórias rocambolescas desses livros descrevam de maneira verdadeira a estória do universo e a origem da vida? A diferença básica entre as fábulas Bíblicas e as minhas supostas descobertas das formulas supracitadas é que os textos bíblicos foram escritos e faz muito tempo enquanto que as minhas alegações são orais e recentes.
Como alguém que goze de perfeito juízo pode aceitar seguir uma moral tão arcaica para os dias de hoje e que em inúmeros casos constituí numa afronta aos Direitos Humanos, apenas por acreditar (sem nenhuma prova) que ela seja divina?
Existem pessoas que acreditam que Elvis Presley continua vivo, de fato. Entretanto o enterro dele foi registrado, seu cadáver foi fotografado e um atestado de óbito produzido. Depois do enterro, Elvis não foi mais visto em pessoa, não compôs mais canções, não cantou mais em público e não visitou mais a família e os amigos. Não houve mais nenhum traço de suas ações registrado por bancos, hospitais, supermercados, polícia, pessoas, etc. Como acreditar que ele está vivo? Eu não acredito que Elvis esteja vivo, mas tem gente que acredita (embora eles sejam cada vez menos). Que nome devemos dar às pessoas que NÃO acreditam que Elvis esteja vivo? A-Elvis? Não é necessário, não é mesmo? Pois é senso comum, salvo raras exceções, aceitar que ele morreu, ao mesmo tempo nem que não há provas de que ele esteja vivo. Por isso eu acho uma pena o fato de alguém ter que se autodenominar ateu. Ateu por não acreditar que existam deuses sobre os quais não há nenhuma prova de suas existências. Devemos agora começar a rotular as pessoas de A-saçis, A-Ets, A-duendes, A-unicórnios, A-mula-sem-cabeça? Talvez seja melhor denominá-los de céticos. Pessoas que usam a razão pra discernir, baseando-se em evidências, em que se deve crer ou não. Talvez essa minha analogia não seja perfeita, mas eu sei que meus leitores são pessoas inteligentes e compreendem a essência do meu pensamento.
Nós não deveríamos perder um só segundo debatendo com quem defende a existência de algo sobre o qual não há nenhuma prova. Antes de discutirmos sobre espíritos, deveríamos pedir uma prova irrefutável ao nosso interlocutor sobre a existência desses. Apresentar um médium não serve, pois o que não falta é charlatão. Vocês acham que se houvessem provas indiscutíveis da vida após a morte ou da existência de espíritos, ainda haveria gente negando essa existência? Talvez sim, uns poucos loucos. Negar um fato indiscutível seria como querer negar a existência dos automóveis ou dos aviões.
Infelizmente existe muita gente que confunde estórias e contos com fatos. Existe gente que, por ignorância e/ou falta de honestidade intelectual quer transformar mitologia em fato histórico. Se algum dia conseguirmos por fim às crenças religiosas, lembraremos desse período da história humana com horror e espanto, assim como as pessoas olham hoje com repugnância para a escravidão, que era a coisa mais normal entre o século XVI até meados do século XIX.
Quando transcendermos ao fenômeno religioso, ficaremos atônitos em ver como as pessoas puderam deixar suas sociedades se tornarem tão perigosamente fragmentadas por conta de idéias vazias acerca de deus e do paraíso.
Da mesma forma que não damos crédito a quem afirma ter a fórmula da vida eterna, devemos nos mobilizar para colocarmos as religiões, a Bíblia, o Corão e a Torá em seus devidos lugares: o das obras de mitologia. A partir desse momento religião não mais se discutiria. Há muito trabalho a ser feito e é por isso que nós, os céticos, temos que ser a infantaria da razão.
via, Bule Voador

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