terça-feira, 12 de abril de 2011

Como perder a fé

Um bom começo para se perder a fé em qualquer coisa é viver em países como o Brasil – injustos e infestados por mais gente que não respeita valor algum do que seria normal em nações que lograram civilizar-se em níveis aceitáveis.
Juro que luto para manter a fé, sobretudo no ser humano. Tenho medo de acreditar que algum membro da nossa espécie seja irrecuperável. Pode parecer estranho a muitos, mas pensar assim me faria ter medo de viver...
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Ultimamente, porém, não está fácil. Fatos que surgiram nas últimas semanas me fizeram temer pelo próprio sentido da vida, que, para mim, é a busca do menor nível de mediocridade que tenhamos que suportar em nós mesmos, como espécie.
Apesar de tantos que se horrorizaram com a mera existência de alguém como Jair Bolsonaro e seus (muitos?) seguidores, assumidos ou não, o fato de haver gente capaz de defender a discriminação de pessoas inofensivas como homossexuais, é de estarrecer.
Pior é ver gente capaz de procurar desmoralizar relatos históricos como a novela do SBT sobre a ditadura, os depoimentos reais de vítimas.
Que ser humano pode ficar impassível diante do que de horrível está sendo relatado sobre aqueles anos obscuros de injustiça, violência, maldade e loucura?
Alguém capaz disso tem recuperação?
E nem vamos falar da mortandade de crianças e adolescentes naquela ESCOLA (!!!) do Rio de Janeiro. Um ser capaz daquele ato é a própria encarnação do diabo. Irrecuperável. Sua loucura não desculpa. E não é a ele, mas à sociedade que deixou alguém chegar àquele ponto.
Todos os sistemas sociais falharam com Wellington de Oliveira. Com eles, falhamos todos nós que não vimos o que acontecia com um ser de quem os relatos dão conta de que apodrecia moralmente às vistas da família e dos amigos, ao menos.
É a sociedade em que estamos inseridos. Está tudo errado. Apaguemos tudo e comecemos de novo. Assim não dá mais. Se este mundo fosse um bonde, pediria para parar para que eu pudesse descer.
Sinto abalar-se dentro de mim um sentimento nobre que sempre procurei cultivar, de acreditar sempre que é possível encontrar um lado bom em qualquer um, por mais corrompido pela vida que possa estar.
Parafraseando Jean-Paul Sartre, “Nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua essência, produto do meio em que vive, construído a partir de suas relações sociais”.
Ninguém nasce mau ou se torna tão mau a um ponto irrecuperável? Será? Começo a ter dúvidas.
E isso me apavora a um ponto em que, como hoje, sinto a mente vazia. Por isso, não fui capaz de escrever sobre outro assunto além desse medo de ter passado a vida toda me enganando.
blog da cidadania

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