O boné estava sobre a relva, a alguns metros da praia de uma vila de pescadores no litoral de São Paulo. Um turista que passeava por ali não se fez de rogado. Depois de examinar o local por alguns instantes, e não vendo ninguém, pegou o boné e continuou andando. Menos de 20 metros depois, um caiçara curtido pelo sol alcançou-o e pediu o boné de volta.
Ao presenciar a cena, me lembrei de um fato semelhante que aconteceu no deserto há alguns anos. Um turista encontrou um objeto ao lado de um monte de pedras. Achou-o interessante e resolveu guardá-lo como lembrança.
Os dois turistas, apesar de separados por milhares de quilômetros devem aplicar a máxima achado não é roubado.
Um escândalo.
O guia jordaniano reuniu o grupo e explicou que todo e qualquer objeto encontrado não deve ser tocado, pois os beduínos têm por hábito deixar seus pertences, por mais valiosos que sejam, “guardados” ao lado de montes de pedras ou de arbustos que, aos olhos menos avisados dão a impressão de abandonados ou perdidos. Mas não estão. Deixar pertences espalhados pelo deserto é uma tradição milenar que os beduínos observam até hoje.
As semelhanças não param aí. Basta observar como os caiçaras navegam. Os remos que movem os barcos jamais agridem a água. Deslizam com suavidade em respeito a seus antepassados que um dia o mar esqueceu de devolver. A mesma suavidade e o mesmo respeito são observados pelos beduínos quando caminham sobre as areias do deserto.
Definitivamente, o caiçara é o beduíno do mar.
Com certeza um estudo mais apurado irá revelar muitas outras semelhanças, até na opressão. Pois tanto os homens do mar quanto os homens de areia, apesar de generosos, são hoje brutalizados por governantes que não medem esforços para mante-los nas trevas. Os beduínos são vítimas de senhores feudais, os caiçaras de capatazes de plantão.
Mas como se diz no deserto, a escuridão não existe, o que existe é a falta de luz.
By: Blog do Bourdoukan, via Com texto livre
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