Reportagem de quinta-feira (9) do Jornal Nacional sobre o crescimento do PIB no penúltimo trimestre pode ser interpretada como prova definitiva de que Globo, Folha, Estadão, Veja e suas ramificações combaterão Lula até o último dia de seu governo – e não se tratará de uma saudável fiscalização da imprensa, mas de combate político-partidário.
Impressionou a reportagem daquele telejornal sobre a economia. Transformou boas notícias em más notícias. A queda do ritmo da economia no terceiro trimestre, apresentada sob insinuação de que revelaria debilidade do crescimento sustentado, ganhou destaque. Abaixo, a reportagem. Continuo em seguida.
Falou-se sobre queda no ritmo da indústria, por exemplo, justamente em um momento em que a indústria costuma desacelerar. E o que é pior: no âmbito de medidas decididas tomadas pelo governo – inclusive durante a campanha eleitoral, na forma de aumento dos juros – para reduzir o ritmo do crescimento.
De forma quase inacreditável, o principal telejornal da Globo compara o crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre justamente com o crescimento de países que têm tido imensa dificuldade para crescer, como os Estados Unidos, o México ou o Chile.
Tratou-se de uma comparação descabida porque a economia brasileira vem recebendo estímulos do governo para diminuir sua taxa de crescimento – para controlar a inflação – e a economia americana, por exemplo, vem recebendo-os em sentido contrário. Crescemos sem querer no nível em que americanos crescem querendo e necessitando crescer mais.
Nas reportagens sobre o PAC, destacam o número de obras em vez de o empenho de recursos, ou seja, enquanto mais de oitenta por cento dos recursos ao programa terão sido investidos até o fim do governo Lula, essa imprensa destaca que o número de obras inconclusas – apesar de em execução devido à liberação de recursos – ficou pouco abaixo de quarenta por cento.
Estamos chegando a 2011 em uma fase inigualável de nossa história. O Brasil dos próximos anos tende a melhorar para todos, a distribuir renda, a fazer subirem os salários, a se impor como player global, a promover avanços revolucionários nos indicadores sociais, mas nada disso é informado à sociedade.
Há um quê de melancolia no noticiário. Destacam-se supostas e absurdas “rupturas” de Dilma Rousseff com o modelo de Lula com base em uma ou duas declarações que ela tem dado sobre diplomacia e comunicação. Surge um discurso, aliás, que poderia justificar uma redução da tensão entre essa imprensa e o novo governo, mas que não irá durar.
Tenta-se enquadrar a presidente eleita. A tese de que ela não levaria adiante as medidas para regular a comunicação – o que seja, levar adiante, por exemplo, a proibição decidida à propriedade cruzada de meios de comunicação – serve como uma proposta de redução do bombardeio se tais medidas não forem tomadas.
A grande questão política no ano que vem, portanto, será a postura que Dilma deverá adotar em relação à mídia conservadora. Se der sinais de que aceitará a proposta de não ser bombardeada em troca de não incomodar o setor, poderá ter um primeiro ano de governo mais tranqüilo.
Apesar de Lula ter sido acusado de ser excessivamente pragmático com a mídia, ela entende que não foi bem assim. Medidas para criar supostos “órgãos de controle da mídia”, a inaceitável (pela direita) questão das cotas para negros e a redução dos negócios com os americanos, entre outras, foram medidas que desencadearam a guerra midiática que se vê.
A decisão de Dilma sobre a proposta midiática pautará a situação política do país pelos próximos anos. Poderemos ter mais um governo sofrendo sabotagens diárias – ao arrepio do interesse da maioria de que o país vá bem –, com as inegáveis conseqüências deletérias previsíveis, ou a paz dos cemitérios.
Que escolha você faria, leitor? E qual acha que Dilma fará?
blog da cidadania
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