É uma novela sem fim. Apesar dos desmentidos, o assunto sempre volta: o presidente Lula estaria procurando um emprego no Exterior, para quando deixar o Planalto. Ora como secretário-geral das Nações Unidas, ora como integrante de algum organismo internacional. Será na OMC? No BIS? Na FAO? Será como embaixador da UNICEF? Enviado para a paz no Oriente Médio?
O que leva jornalistas a especular tão insistentemente a respeito de um suposto emprego de Lula no Exterior, em 2011?
Não posso responder por eles. Posso especular, tanto quanto eles especulam.
1. Lula, de fato, está procurando emprego no Exterior. Mas, como não convém assumir isso publicamente agora, desmente sempre…
2. Lula não está procurando emprego no Exterior e a mídia brasileira quer arranjar um emprego para Lula no Exterior a qualquer custo…
Não disponho de informações que confirmem ou desmintam a primeira hipótese.
Como o Palácio do Planalto desmente continuamente as especulações, prefiro acreditar nos desmentidos.
Porque, como já ficou demonstrado na ficha falsa da ministra Dilma Rousseff, no dossiê-duplo proposto pela Folha de S. Paulo (um contra José Serra, outro contra Eduardo Jorge) e em muitas outras crises ao longo do governo Lula (para não falar naquela pesquisa Datafolha fora da curva, que “elegeu” Serra há algumas semanas), prefiro analisar o histórico — e este joga contra dar crédito às especulações da mídia.
O que há por trás de tantas tentativas de empregar Lula fora do Brasil, então?
Especulo:
1. Confirma os preconceitos da própria mídia de que tudo o que um petista quer é uma “boquinha”, se possível paga em euros ou dólares; como se sabe, o monopólio do idealismo no Brasil, aos olhos da mídia, pertence ao capital; atrás do idealismo “de esquerda”, reza a cartilha midiática, se escondem interesses pecuniários. Lula empregado no Exterior, em alguma sinecura vistosa, se encaixa plenamente no mesmo preconceito que Fernando Collor usou contra Lula, em 1989: o operário que tinha um som três-em-um muito sofisticado, bem acima do que sua renda supostamente permitia. Ou seja, Lula só pensa em tirar de sua militância alguma vantagem pessoal.
2. Lula, no Exterior, ocupado com a África ou a crise no Irã, ficaria distante de um eventual governo da candidata Dilma Rousseff, permitindo à mídia que tratasse a (possível) mandatária como tratou Lula: uma crise ou caos por mês. Ou seja, seria o renascimento da teoria que Fernando Henrique Cardoso adotou assim que Lula parecia a caminho da vitória em 2002. “Ele vence, mas fracassa. Eu volto por cima da carne seca”, teria meditado o então presidente. Mais tarde, durante o mensalão, FHC adotou a teoria do sangramento de Lula, que resultaria em um presidente-candidato sofrendo de anemia aguda às vésperas da reeleição. Lula empregado no Exterior, em alguma ONU da vida, facilitaria o sangramento de Dilma, se e quando necessário.
3. Lula, antecipadamente empregado no Exterior, permitiria à oposição dizer ao eleitorado, durante a campanha de 2010, que Lula está se lixando para Dilma. “O Lula até emprego já arranjou no Exterior”, argumentariam. Uma forma de fazer crer aos eleitores que a era Lula de fato terminou e que Lula está mais preocupado com seu próprio futuro do que com o futuro de seu projeto político, de sua candidata ou do Brasil.
4. Lula, empregado no Exterior, permitiria jogar sal na perspectiva que realmente apavora a oposição e, portanto, a mídia: Dilma eleita em 2010, reeleita em 2014 e Lula de volta em 2018.
Fiquem à vontade para votar em qualquer uma das quatro opções, nas quatro ou para inventar alguma outra. Pelo menos aqui a gente abre o jogo e não vende isso como “notícia”: é mera especulação.
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