quinta-feira, 1 de julho de 2010

Déficit nominal em relação ao PIB





Esse gráfico é muito impressionante. Ele mostra o déficit nominal em relação ao PIB das principais economias, e o Brasil está no topo da pirâmide, ou seja, é um dos países menos endividados do mundo. Nem sempre foi assim. Fui dar uma espiada na coluna da urubóloga, Mirian leitão e, sem surpresa, vi que ela nem toca no assunto que constituiu o tema central da reunião do G20, que é a meta de reduzir os déficits fiscais até 2014.

Claro que ela não abordou o tema. Isso a forçaria a elogiar o Brasil! Ela não se constrangeu, todavia, e, mencionando o G20, deu um jeito de falar mal de Lula.
Miriam Leitão perdeu qualquer escrúpulo de coerência. Seu antilulismo é tão doentio, que há momentos em que seu texto se torna verdadeiramente incompreensível. Observem como ela abre a coluna de hoje:
A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.
Ela começa o parágrafo elogiando o G-20, uma criação geopolítica da qual o atual governo participou ativamente, emite um muxoxo infantil sobre a ausência de Lula e conclui, numa piparote lógico de fazer Descartes dançar o rebolation em seu túmulo, que "o Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes". Perdeu porquê? Porque Lula faltou à reunião para monitorar a tragédia no Nordeste?
No finalzinho do texto, ela manda essa:
Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.
Não seria o contrário? Se o Brasil fez o seu dever de casa no G20, não pode ser muito bem representado, como o foi, por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega? O que é mais importante, participar de burocráticos convescotes internacionais, onde Lula seria criticado de qualquer jeito (por viajar demais, etc) ou prestar apoio governamental e psicológico (com sua presença física) às vítimas de uma tragédia que vitimou a região mais pobre do país?
O raciocínio de Miriam é insensível e preconceituoso. Em virtude de sua economia frágil, a tragédia do Nordeste pode ter desdobramentos terríveis para milhões de pessoas. Prefeituras e governos estaduais tem estrutura precária e insuficiente para dar solução aos problemas urgentes que se multiplicam dia a dia. A burocracia emperra as verbas alocadas para levar auxílio às vítimas. Enfim, há uma série de fatores que pedem o monitoramento atento de um chefe de Estado preocupado com a população. Quando aconteceram as enchentes em São Paulo, José Serra, então governador, desapareceu do mapa, com medo de que sua imagem fosse associada a uma tragédia. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, igualmente escafedeu-se. Milhões de pessoas sofreram os efeitos da chuva sem que ao menos seu governante trouxesse palavras de conforto nem os informasse sobre as providência que estavam sendo tomadas. Durante semanas a fio, comunidades inteiras permaneceram submersas na lama pútrida, abandonadas pelas autoridades responsáveis. E nenhum colunista de jornal teve culhões para fazer a pergunta: "onde está José Serra?"
E agora, que Lula adota uma postura oposta e vai ao Nordeste e pisa na lama, e leva seus principais ministros para verem de perto o que aconteceu, Miriam Leitão diz que o presidente errou, que o certo era ele deixar sua equipe resolvendo o pepino, entrar no AeroLula e participar de coquetéis em Toronto, Canadá? Ora, é evidente que a presença de Lula, uma figura reverenciada como um mito no Nordeste, ajuda muito, em todos os sentidos. Ajuda a agilizar a liberação de verbas, cujo fluxo é atrasado por incompetência e insensibilidade burocrática; ajuda a trazer esperança e tranquilidade às vítimas, aliviadas por saber que Lula está monitorando pessoalmente a situação; melhora, enfim, a autoestima de todo país, que vê o Estado, na figura do funcionário público mais graduado da República, agindo efetivamente para reduzir os danos causados pela tragédia. O G20, afinal, é muito bom, mas não é comida.

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