sexta-feira, 18 de junho de 2010

Da história dos EUA – Intolerância religiosa


Em 11 de dezembro de 1620, desembarcou em New Plymouth (depois Massachusetts), os primeiros colonos do Mayfloyer, um velho barco cargueiro alugado por dissidentes calvinistas ingleses – e alguns holandeses. Liderados por William Bradford e William Brewster, eram puritanos nãoconformistas que criticavam a Igreja Anglicana que, na opinião deles, ainda se mantinha vinculada aos rituais romanos (papado). Foram para a América do Norte em busca da liberdade religiosa e consideravam-se como essencialmente cristãos. Como relata Paul Johnson:



“Os homens e mulheres do Mayfloyer eram muito diferentes [dos colonos que desembarcaram na Virgínia]. Eles não chegaram à América com o propósito primordial de enriquecerem, e nem sequer com a intenção de ganhar a vida, ainda que aceitassem ambas as possibilidades como benções de Deus, mas sim para criar o reino Dele sobre a terra. Eram os zelotes, os idealistas, ou talvez devêssemos afirmar que os mais extremistas entre eles eram fanáticos, intransigentes e excessivos em suas pretensões de superioridade moral. Também eram imensamente enérgicos, tenazes e valentes”. *
O impulso que os moviam era de cunho religioso. Perseguidos, defendiam a liberdade religiosa. Mas, qual liberdade? Eis outro paradoxo da história dos EUA: a defesa desta não é incompatível com a intolerância religiosa e a perseguição aos que, entre eles, não professassem dos mesmos princípios. Intérpretes da palavra divina se consideravam no direito de definir o bom e o justo. Se na metrópole eram os “perseguidos”, não vacilavam em perseguir os considerados hereges e desagregadores em solo norte-americano. Leiamos o relato do historiador:
“Em Massachusetts era costume advertir às pessoas identificadas como agitadoras religiosas que deviam ir embora. Se insistiam em ficar, ou regressavam, eram submetidos a julgamento. Em julho de 1641m por exemplo, o doutor John Clarke e Obediah Holmes, ambos de Rhodes Island, foram presos em Lynn pelo comissário por terem organizado uma reunião religiosa não autorizada em uma casa, na qual condenaram a prática do batismo dos bebês. Clarke foi encarcerado; Holmes foi açoitado publicamente. Em 27 de outubro de 1659, três quakers, William Robinson, Marmaduke Stevenson e Mary Dyer, que haviam sido expulsos várias vezes da colônia – a última vez, com a ameaça de que em caso de reincidir seria aplicado a pena de morte – foram presos sob a acusação de “nocivos e desagregadores” e condenados à forca em Boston. A condenação foi cumprida no caso dos homens. A execução da mulher, que tinha os olhos vendados e a corda em torno do pescoço, foi suspensa devido à intervenção de seu filho, que garantiu que abandonaria a colônia de imediato. O certo é que tempos depois ela voltou e finalmente, em 1 de junho de 1660, foi executada. Outras mulheres foram penduradas por bruxaria; a primeira foi Margaret Jones, condenada em Plymouth em 13 de maio de 1648 por “praticar medicina”com “toque maligno”. Se aplicaram penas severas aos transgressores da moral de todo o tipo. Até 1632, o adultério era penalizado com a morte. Em 1639, outra vez em Plymouth, uma mulher adúltera foi açoitada, depois arrastada pelas ruas com as letras AD costuradas na manga do vestido, e advertida de que se removesse aquele sinal as letras seriam gravadas em seu rosto. Dois anos depois, um homem e uma mulher condenados por adultério foram chicoteados, desta vez “em um poste”, e se ordenou “costurar em lugar bem visível de suas roupas” as letras AD”.**
Assim era a moral entre aqueles que se consideravam guardiões dos bons costumes. Este relato me faz lembrar o filme “O apedrejamento de Soraya M.”.

* JOHNSON, Paul. Estados Unidos. La historia. Buenos Aires: Javier Vergara Editor, 2004, p.51. A tradução das citações é minha.

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