Foi sintomática a preocupação dos leitores com matéria de pregação golpista publicada no sábado no blog do Josias de Souza – aquele que publicou foto de Marta Suplicy e Dilma Rousseff sob legenda contendo as palavras “vadias” e “vagabundas”. O post contém “entrevista” com Marco Aurélio Mello, primo de Fernando Collor de Mello, indicado por este para a Suprema Corte. Mello, em 2000, soltou o banqueiro Salvatore Cacciola, que fugiu do Brasil no mesmo dia em que recebeu o habeas-corpus.
Em síntese, esse juiz, ao melhor estilo Gilmar Mendes de ser, costuma antecipar, em “entrevistas”, decisões que pode tomar. Como Mendes, tornou-se uma espécie de “conselheiro jurídico” dos partidos de direita ora na oposição. Neste caso, sugeriu a eles que representem contra Dilma na Justiça Eleitoral pedindo a cassação de sua candidatura por conta do programa do PT no último dia 13 de maio, em que o partido fez campanha para ela.
Desde então, Globo, Folha, Estadão e Veja vêm batendo nesta tecla, sobretudo desde que saíram as pesquisas Vox Populi e Sensus. Mas a idéia desse plano B para a direita colocar novamente um despachante no governo do país ganhou força com a divulgação da pesquisa Datafolha, que, sob o olhar da Polícia Federal, teve que se render aos institutos de pesquisa que a Folha de São Paulo tentou desmoralizar quando mostraram a força da candidata petista.
Não tenho a menor dúvida de que, conforme for caindo a ficha da direita brasileira de que um governo tão bem avaliado quanto o de Lula dificilmente deixará de fazer seu sucessor, essa idéia para tentar eleger José Serra sem ser pela via eleitoral ganhará força. Contudo, há alguns entraves a tal idéia os quais, obviamente, serão desprezados quando o desespero eleitoral tucano-midiático aumentar diante da perspectiva de mais quatro anos fora do poder.
São vários os entraves ao plano B destro. Pesa contra Serra, por exemplo, praticamente o mesmo que contra Dilma. Além de campanha eleitoral antecipada e abuso de poder que o candidato conservador praticou ao aparecer em programas de outros partidos em outros Estados e até em São Paulo, ele também usou a companhia de saneamento básico paulista, a Sabesp, para fazer propaganda de seu governo por todo Brasil.
Enquanto a direita serrista não decide se embarca ou não nessa imprevisível aventura, a mídia fica batendo na tecla de que Lula e Dilma estariam cometendo “crime” ao fazerem proselitismo político “antecipado”. Como se vê, Globo e companhia já pensam em imprimir na memória popular uma justificativa para uma eventual medida judicial pedindo a cassação da candidata à qual se opõem.
No sábado, na Globo News, a jornalista Cristiana Lobo falava abertamente nisso, mas considerando que a chance de sucesso de tal medida (tentar cassar Dilma caso ela se eleja, ou até mesmo antes) seria pequena porque Lula, com sua popularidade imensa, “jogaria o país contra o Judiciário”. Não foi dita uma só palavra sobre a campanha antecipada de Serra, claro.
Mas os principais entraves a uma medida desesperada como essa ainda não foram mencionados. São eles a repercussão de um discurso desses – sobre cassar a candidata de Lula – entre o eleitorado e o medo do empresariado, que financia os partidos de direita, dos prejuízos que teria com a onda de greves que sobreviria e com o repúdio da comunidade internacional, que pode descambar até para pesadas sanções comerciais e econômicas contra o Brasil se sua direita tentar eleger seu candidato por via não-eleitoral.
E é entre o eleitorado que talvez esteja o principal problema desse recurso ao terceiro turno. Pegaria muito mal. Denotaria que Serra acha que não terá votos e que, por isso, tenta ganhar no tapetão. E como não dá para ter certeza de que a Justiça Eleitoral seria capaz de contrariar a vontade da maioria dos brasileiros, ficar falando em cassação de candidatura por conta de uma infração que todos estão cometendo só servirá para aumentar a percepção de inevitabilidade da vitória de Dilma.
Contudo, não podemos nos esquecer de que a paranóica direita brasileira está perdendo o sono ante a possibilidade de ser eleita presidente uma mulher que essa facção política prendeu e torturou por três anos, de forma que os preparativos de movimentos sociais, de sindicatos, enfim, da sociedade civil devem ir sendo feitos, pois, de uma vez que fique materializada a inevitabilidade da eleição de Dilma, tenho poucas dúvidas de que Serra tentará o tapetão.
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