Em queda nas pesquisas de intenção de voto, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, temperou nos últimos dias seu discurso com críticas à adversária Dilma Rousseff (PT) e ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia: contrapor ao máximo Serra a Dilma. Os líderes tucanos acreditam que, em debates públicos, o ex-governador levaria a melhor. Analistas políticos, no entanto, ponderam que os ataques nem sempre são bem recebidos pelos eleitores e podem fazer Serra cair ainda mais nas pesquisas de intenção de voto.
"O eleitor não gosta de ataques porque sente que deixou de ser o foco do candidato", explica o cientista político e consultor de marketing político Rubens Figueiredo. "Só o eleitor-torcedor gosta de ataque e este já está convicto sobre em quem votará." O professor Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reforça: "É preciso dosar prudentemente a carga."
Desde a semana passada, duas pesquisas de intenção de voto já apontavam a queda de Serra e o crescimento de Dilma. Na sexta-feira o tucano acusou a existência de "patrimonialismo selvagem" e "bolchevismo sem utopia" no governo federal. No sábado, o Instituto Datafolha mostrou empate entre Serra e Dilma, ambos com 37% das intenções de voto. A diferença entre os dois era de 12 pontos em abril.
Serra voltou à carga na terça-feira, em sabatina com os presidenciáveis promovida pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Reclamou do formato do evento, que não permitia o debate entre os candidatos, e ironizou a fala de Dilma, dizendo não ter entendido as opiniões da petista em relação à questão tributária e à macroeconomia. Ontem, o tucano atacou o governo boliviano, de Evo Morales, próximo a Lula. Disse que o país faz "corpo mole" e é "cúmplice" no tráfico de drogas para o Brasil.
Para Figueiredo, as declarações de Serra sobre a Bolívia podem ter sido acidentais. "Algumas coisas escapam. Ninguém é máquina. Não sei se ele pensou bem no que disse sobre a Bolívia", afirmou o analista. Mesmo assim, ele não acredita que as declarações impactem a opinião do brasileiro. "A política externa não é uma preocupação para os eleitores."
Figueiredo afirmou que Serra precisa afinar o discurso e passar a mostrar de que forma pretende melhorar a vida do povo. "A estratégia de comparar currículo com Dilma e não atacar Lula revelou-se ineficiente. Bastou um programa partidário do PT na televisão para Dilma empatar com ele", disse o analista. "Serra passou a ser mais agressivo, mas não empolga a massa de eleitores falando de temas como patrimonialismo e autonomia do Banco Central."
Bases
Romano, filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp, aponta falhas na campanha tucana em relação às bases regionais de apoio a Serra. "De nada adiante criticar o adversário se o candidato não tem retaguarda, se não tem quem replique esse discurso nacional no âmbito regional. As bases transformam o discurso em voto", disse.
Para Romano, o PSDB precisa organizar as bases e parar de "gastar tempo" com a "novela" da indefinição do vice de Serra - o ex-governador mineiro Aécio Neves reiterou hoje que disputará o Senado. "Se modificações urgentes não vierem, prevejo que a candidatura de Serra emperra já em julho", afirmou. "A falta de um vice está associada à ausência de alianças que sustentem a candidatura. Não se faz campanha só com um candidato virtuoso."
Líderes tucanos apostam em junho como o mês da virada a favor de Serra e depositam boa parte da esperança no efeito da exibição de inserções e da propaganda partidária do PSDB e de partidos aliados. Romano relativiza essa avaliação. "O tempo de TV é uma espoleta. Ele arma o revólver. Mas é preciso que a bala saia. E, para que a bala saia, é preciso esse trabalho estratégico de organizações das bases, que já deveria ter sido feito."
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