segunda-feira, 31 de maio de 2010

Crônica: Sem vassalagem nem vacilo

Colaboração de  *Peri Bandeira Desfraldada


Sem vassalagem nem vacilo

            Quando era Presidente da República e se encontrava com um chefe de nação, FHC, dominado pelo complexo de  vira-lata,  exibia sua condição de vassalo em  inglês ou - dependendo da origem do interlocutor – em  francês, espanhol e até alemão. A imprensa tupiniquim, babando  de admiração pelo líder poliglota,  nem percebia que ele tinha se deslocado do Brasil apenas para beijar a mão do anfitrião e lhe fazer toda espécie de mesura.

            Tamanha submissão contagiava seus ministros. Tanto que um deles não demonstrou a mínima indignação, o mínimo protesto diante do policial que o obrigou a quase desnudar-se em um aeroporto americano.
            Collor sempre tentando representar o papel de ostentar “educação de berço” – viajava  por aí para brasileiro crédulo ver via tevê. Também “poliglota” - “Doela a quem doela” - e exibicionista, queria mostrar-se pelos palácios do mundo. Sua visita a um maioral, porém, tinha tanta importância quanto aquela  apresentação que o cantor brega Alexandre Pires fez  para George W. Bush  na Casa Branca. Digo mais: sua estada lá no Hemisfério Norte assemelhava-se àqueles episódios do século XVI e XVII nos quais índios emplumados eram exibidos nas cortes europeias. A única diferença do ameríndio daquele tempo para o de agora é que Collor macaqueava a língua do dominador e se vestia  da mesma maneira.  – O que evitava que “aquilo roxo” ficasse balangando ao vento e  causando rubor em alguma mademoiselle pudica.
            Sarney, a pretexto de se encontrar com chefes de Estado, não fazia mais do que aproveitar o avião presidencial  para levar amigos e suas respectivas  esposas em comitiva  para passear no exterior e comprar quinquilharias cafonas a preços módicos.    
            Os presidentes militares, por não precisar fingir independência, autonomia – uma que vez que prezam e pregam a hierarquia -  pouco viajavam, preferindo bater continência aqui, em solo brasileiro,  para os enviados dos governos  dos Estados Unidos  ou  de países europeus.
            Já o Presidente Lula, que aprendera no sindicato  que não há homens superiores e sim luta de classes, nunca se viu intimamente obrigado a se curvar diante dos líderes das superpotências. Trata-os de igual para igual  em qualquer lugar que estejam e, além disso,  ousa discutir temas cujos interesses  extrapolam as fronteiras do Brasil e da América Latina.
            FHC tem fama de espirituoso, brincalhão. Dizem que ele perde o amigo, mas não perde a piada, entretanto dentro ou  fora do Brasil, exercia a presidência como quem brinca de “fazer tudo o que seu lobo mandar”. Condicionado à etiqueta cortesã, jamais ousou levantar a cabeça diante de um “superior”. A ordem era privatizar? Privatizava e pronto!
            O Presidente Lula também brinca, mas não, tendo o medo que uma criança pequena tem diante de uma maior  e sim como um operário, que foi,  isto é, vendo no outro um semelhante que pode ser zombado sem melindres,  sem riscos. Por isso - Para horror das cabeças colonizadas. - ele não teria o menor constrangimento em dizer (se quisesse), fitando zombeteiramente o presidente norte-americano: “Companheiro Obama, tu tem um par de orelhas de lascar!” Do mesmo modo, sem se abalar, poderia tomar a liberdade de fazer este trocadilho infame: “ Companheiro Putim, tu vai ficar putim comigo, mas vou te dizer uma coisa...”
            E assim, sem medo de ser feliz e usando apenas o nosso belo português coloquial, Lula já vendeu seu peixe nos mercados internacionais, colocou o Brasil na ponta dos cascos e se  tornou o Cara.  
  
    Peri Bandeira Desfraldada 16/05/2010

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