sábado, 24 de abril de 2010

Tempestade no Cerrado faz vento...





As notícias veiculadas pela imprensa demo-tucana acerca da pré-candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP), nesta sexta-feira, 23, serviram para mostrar o quanto a grande mídia, a serviço dos interesses do conservadorismo, pode ser rasteira. Não é segredo para ninguém que Ciro sempre defendeu o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República, argumentando que é saudável à democracia que o eleitor tenha mais que duas opções de escolha.

Neste sentido, o movimento de Ciro é totalmente legítimo, visto que nada mais natural que um potencial candidato lutar pela viabilização de sua candidatura junto ao Partido. Contudo, diante dos recentes números divulgados pelas pesquisas de intenções de voto, nos quais Ciro aparece em tendência declinante, abaixo dos 10%, e também levando em conta que o enfrentamento plebiscitário entre Dilma e Serra tende a ser melhor para a candidatura governista, o PSB de Ciro dá sinais de que não deve bancar a candidatura do deputado.

Esse tipo de acontecimento é mais comum do que se imagina na arena política: de um lado um quadro reconhecidamente forte “esperneando” para que o seu partido banque sua candidatura e, do outro, o partido analisando o cenário eleitoral e ponderando a viabilidade dessa potencial candidatura. Agora, o que tem se visto recentemente, especialmente nessa última semana, é a imprensa aproveitando esse cenário de instabilidade da pré-candidatura de Ciro para tentar desestabilizar a base de apoio à candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff.

Imprensa repercute suposta crítica de Ciro a Lula

Não é de hoje que a grande imprensa vem publicando matérias falaciosas dizendo que o presidente Lula vem atuando nos bastidores para convencer o PSB a não lançar candidatura própria, a despeito da intenção de Ciro Gomes em entrar na disputa. Nesta sexta-feira, porém, a coisa aparentemente se agravou: de acordo com uma suposta entrevista dada por Ciro ao portal IG, que foi negada pelo pré-candidato à noite, o deputado federal teria declarado que Lula “navega na maionese” e não é tão “poderoso” quanto pensa.

Pronto. Foi o suficiente para toda imprensa demo-tucana entrar em ação e começar a repercutir a tal entrevista, que Ciro negou ter concedido, na tentativa de criar um ambiente conflituoso na base de apoio do governo Lula e numa possível base de apoio à candidatura governista. Muitas lideranças demo-tucanas aproveitaram o episódio para dizer que Ciro havia sido “enganado” por Lula e pelo PT, na nítida intenção de jogar o deputado do PSB contra a cúpula e a própria militância do PT.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), por exemplo, declarou: “ele [Ciro] foi cozinhado grosseiramente, depois percebeu que sequer seria candidato a governador de São Paulo. O tratamento que deram a ele não foi leal”. As palavras do senador ainda foram endossadas pelo líder tucano na Câmara, João Almeida (BA), que disse que Ciro se “iludiu” com o presidente Lula. E ao longo de toda sexta-feira, a grande mídia, especialmente a Folha de São Paulo, tratou de dar destaque a essas supostas declarações de Ciro Gomes.

Ciro nega entrevista dada ao IG

Contudo, no início da noite, Ciro concedeu uma entrevista ao vivo ao SBT Repórter. Nesta entrevista, o pré-candidato do PSB desmentiu que tenha dado uma entrevista ao Portal IG, bem como, com toda sinceridade, declarou que disputará até o último instante sua pré-candidatura pelo PSB. O partido teria informado que a decisão final será anunciada na próxima terça-feira, 27. Ciro disse ao jornalista Carlos Nascimento, do SBT, “até terça feira de manhã, vou lutar e espernear, mas vou obedecer a decisão do partido”. Ou seja, o pré-candidato voltou a sinalizar que está disputando legitimamente dentro do partido, que até o último instante defenderá sua posição, porém acatará democraticamente o que o seu partido decidir. É isso.

Não existe crise nenhuma, como a imprensa gosta de repercutir. E, agora, vem o mais interessante: ao ser questionado sobre a pré-candidatura de Dilma, Ciro declarou que a ex-ministra é uma pessoa muito séria, competente, mas que “não teve nenhuma eleição na vida dela. Os primeiros movimentos dela me deixaram preocupados”. Essa frase do pré-candidato do PSB foi traduzida da seguinte maneira em uma matéria da Folha intitulada ”Na TV, Ciro diz que Serra é melhor que Dilma e promete espernear por candidatura própria”: “Ciro voltou a dizer que o pré-candidato tucano, José Serra, é mais preparado que Dilma”.

Agora cabe a pergunta: em que momento da entrevista Ciro declarou que Serra era mais preparado que Dilma? Assim como fez na semana passada, quanto acusou Dilma de ter dito que “exilados fugiram do país”, a Folha novamente colocou palavras na boca de outrem, manipulando descaradamente a fala de Ciro, que sempre criticou o tucano Serra. Trata-se assim de um movimento ardiloso da Folha para tentar desgastar a relação de Ciro com Lula e o PT, de modo a fragilizar a pré-candidatura de Dilma à Presidência da República.

É interessante destacar que a Folha vem fazendo esse tipo de movimento também em relação à candidatura de Mercadante ao governo do Estado de São Paulo. Nesta sexta-feira, por exemplo, entre uma matéria e outra falando do caso de Ciro, o jornal da família Frias publicou matérias insinuando que a relação PT – PC do B estaria fragilizada em São Paulo pelo fato da direção estadual do PT ainda não ter definido a segunda vaga ao Senado na coligação para o vereador Netinho de Paula (PCdoB). O presidente estadual do PT desmentiu a informação passada pelo jornal, de que as relações estariam estremecidas.

O que se vê, dessa maneira, é uma tentativa sagaz da imprensa demo-tucana em tentar criar focos de conflito entre os partidos da base aliada do governo Lula, atrapalhando, assim, as conversas e a costura de uma ampla coligação de apoio à pré-candidatura de Dilma ao Planalto. Lamentável a postura da imprensa, que novamente serve de instrumento das forças do conservadorismo e do atraso para voltarem ao poder!

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