Antes, meus parabéns ao Ministério Público Federal pelo excelente portal de corrupção que acaba de lançar.
Tenho duras críticas ao MPF, acho que a instituição tornou-se, há tempos, um instrumento da reação.
Casos que envolvem tucanos são sempre esquecidos em gavetas erradas, ou demoram tantos anos que prescrevem.
Banestado, mensalão tucano, trensalão, etc… A postura do MPF para investigar qualquer coisa que envolva o PSDB é de uma admirável incompetência.
Entretanto, tenho que admitir que a comunicação do MPF dá de dez a zero no Executivo e na Petrobrás.
O portal é bonito e arrojado. Conforme você rola a página, aparecem personalidades falando ao internauta.
No alto da página, descubro que foi criado também um portal apenas para a Operação Lava Jato.
Evidentemente, jamais se cogitou em fazer nada parecido para o trensalão, ou para qualquer escândalo tucano.
Bobagem imaginar que o MPF se preocuparia em transmitir uma imagem mínima de isenção…
Os nomes escolhidos pelo MP para a força tarefa da Lava Jato são os mais brilhantes cérebros do MPF, incluindo aí Vladimir Aras, responsável por um excelente blog jurídico, que foi uma das principais plataformas de defesa da Ação Penal 470.
Aras era o protegée de Roberto Gurgel, o PGR que escreveu aquela outra belíssima peça de ficção, que foi a acusação da AP 470, introduzindo a teoria do domínio do fato, afirmando que o dinheiro da Visanet era público, e culpando Pizzolato por uma responsabilidade que era de outros servidores do BB.
Aliás, também foi ele, Aras, um dos que assumiram a linha de frente do MP para trazer de volta Pizzolato.
Temos que admitir.
Os caras são inteligentes e obstinados.
Quando pensamos nos dirigentes sindicais, na maioria das lideranças partidárias da centro-esquerda, é como se fossem um bando de camponeses rudes, diante dos jovens, cultos e brilhantes cosmopolitas que dominam o MP e o Judiciário.
Sergio Moro, o juiz que hoje aterroriza as hostes governistas com sua tática de “mata-esfola”, foi o mesmo escreveu a decisão de Rosa Weber no âmbito da AP 470, aquela deliciosa peça de fascismo judicial, sintetizada na frase: “não tenho provas para condenar Dirceu, mas a literatura me permite fazê-lo”.
Um gênio!
Por coincidência, estavam todos juntos na investigação do Banestado: Sergio Moro era o juiz, Vladimir Aras um dos promotores, e Alberto Youssef, o delator.
Apesar dos documentos vazados citarem Sérgio Motta, José Serra, e uma conta em Nova York intitulada (ó, criatividade) Conta Tucano, nenhum deles conseguiu convencer Youssef a delatar ninguém importante do partido.
No caso do Banestado, Youssef delatou peixes pequenos e foi solto. Voltou a delinquir de novo, mas como é de DNA tucano, e conhecido de longa data de Sergio Moro, foi novamente tratado com generosidade. Pelo mesmo Sergio Moro.
Qual tinha sido a linha de defesa de Youssef, quando acusado de operar contas clandestinas do Banestado?
Doação para campanhas demotucanas do Paraná.
Deixa para lá. Não deu em nada mesmo. Também estou cansado de ficar repetindo um monte de coisas.
Já escrevi dois longos posts sobre Youssef. Um sobre o seu longo passado tucano, e outro sobre a estratégia que ele montou com seu advogado.
Fazer a disputa política com a grande mídia é como jogar xadrez com um super computador. A gente pode usar toda a nossa criatividade, e até ganhar algumas jogadas, mas o adversário é uma máquina: não pára, não cansa.
Como alguns blogs poderão fazer frente à mais poderosa e mais concentrada mídia do planeta?
A mídia vai repetindo a mesma ladainha, as mesmas mentiras e manipulações, indefinidamente. A gente não pode se distrair um minuto, senão acaba entrando no jogo dela.
É preciso entender que os erros que denunciamos na Ação Penal 470 vieram sobretudo do Ministério Público.
Fizeram exatamente o que estão fazendo hoje. Uniram os principais cérebros jurídicos, esses caras que são muito mais inteligentes que a gente, e produziram uma brilhante peça de acusação.
Ficcional, mentirosa, brilhante.
Agora repetem a dose.
Podem ter a certeza que o farão com mais brilhantismo ainda, fortalecidos pela vitória que obtiveram na AP 470.
Dá até pena do PT e do governo, com seu “blog do Planalto” tosco, sem variar o visual desde que foi criado por Lula.
Estão lascados.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi acusado por um dos delatores, Pedro Barusco, de receber de 150 a 200 milhões de dólares. Em nome do PT.
A denúncia foi para a primeira página de todos os jornalões, todas as revistas, tvs, rádios.
O Jornal Nacional deu 20 minutos.
Aí fui na página do PT, para ver se o partido faz alguma defesa de seu tesoureiro.
Nada.
Na festa de 35 anos, em Belo Horizonte, Lula disse para acreditar nele. Dilma falou genericamente em golpismo.
Mais nada.
Não defendem, nem demitem o cara.
Ora, temos que encarar a realidade.
Se o Vaccari recebeu 200 milhões de dólares “em nome do PT”, então o partido está literalmente ferrado.
Ninguém vai defender o partido.
Não é questão de acreditar ou não em Vaccari ou no PT.
Isso é uma disputa política! É preciso enfrentar os fatos!
É preciso batalhar pelo convencimento!
O PT virou um partido autista?
Tem que botar o Vaccari na capa do site do PT, com uma longa entrevista, em texto, em vídeo, em áudio, explorando as contradições da acusação de Barusco.
As pessoas tem de saber quem é Vaccari. Qual é a sua história.
É preciso articular um contra-ataque, baseado em defesa e ataque.
O site do PSDB está cheio de entrevistas, ataques, charges, contra o PT.
O site do PT não vai polarizar?
Dilma, quando fala em golpismo nos 35 anos de PT, precisa explicar o que isso quer dizer.
Ora, a oposição faz oposição.
Estão fazendo o que se espera deles, cada vez mais motivados.
E o blog do Planalto, não vai falar nunca de política?
Eu queria saber: é proibido?
Sabe quantas “curtidas” tem os posts do blog do Planalto?
Duas, três curtidas.
E por que?
Porque é um desastre completo. Não fala de política. Como se fosse proibido, à presidenta, participar do debate.
É um blog protocolar, completamente destrambelhado. O título do último post:
“Governo divulga prevenção à aids nos aplicativos de relacionamento Tinder e Hornet”.
Zero de política, zero de arte, zero de tudo.
E depois ela vem dizer aos ministros para fazer a batalha da comunicação?
Por que não contrata chargistas, escritores, cientistas políticos, videoastas, memistas, para ajudar no blog do Planalto, produzindo material político de primeira qualidade?
Se ela não gosta de falar (o que é um absurdo, mas tudo bem), então contrata alguém para falar no blog.
Todo dia.
Isso não seria uma contribuição para a cultura política?
(A mesma coisa vale para o blog da Petrobrás, mas já cansei de falar isso).
Hoje, um senador do PSDB, Cassio Cunha Lima, falou abertamente em impeachment no plenário. A mídia lhe deu amplo destaque.
Por que a presidenta não reage em seu blog?
O que está em jogo não é o mandato dela, é a democracia, é o Brasil, é a cultura política de 200 milhões de brasileiros, hoje reféns de uma mídia que pratica um golpismo cada vez mais traiçoeiro e sofisticado.
*
O senador em questão foi cassado por compra de voto em 2008! Ficou inelegível por 3 anos. Voltou para a política no ano passado, como senador. Olha a ficha do cara no Wikipédia:
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Casso Cunha Lima
Problemas judiciais:
TRE-PB – Representação nº 215/2006 – Teve o mandato de governador cassado em ação de investigação judicial por conduta vedada a agente público.e pagamento de multa. Recorreu, mas decisão foi mantida no TSE e no STF: TSE – Processo nº 3173419.2007.600.0000 e STF – Agravo de Instrumento nº 760103/2009.
TRE-PB – Representação nº 251/2006 – Foi condenado a pagamento de multa em ação de investigação judicial por abuso de poder político e conduta vedada a agente público. O parlamentar recorre da decisão: TSE – Processo nº 4716474.2008.600.0000
TRE-PB – Processo nº 557204.2006.615.0000 – Teve rejeitada prestação de contas referente às eleições de 2006.
STF – Inquérito nº 3393/2012 – É alvo de inquérito que apura crimes da Lei de Licitações.
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Esse é o nível da hipocrisia reinante hoje na política brasileira.
Não haverá reação?
Miguel do Rosário
No O Cafezinho, via http://www.contextolivre.com.br/2015/02/hipocrisia-impeachment-e-autismo.html
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