Fernando Brito, Tijolaço
"Os jornais estão cheios de especulações sobre o fato de que os círculos do governo Dilma estão “chocados” com os resultados da pesquisa Datafolha que registra uma queda vertiginosa em sua popularidade.
O que acontece, então, para que estejamos vivendo este quadro de desagregação e pessimismo (justificado) quanto ao futuro do projeto nacional-popular que só depois de 40 anos conseguimos retomar para o Brasil?
O problema está, infelizmente, nos métodos.
Dilma é muito ciosa do primeiro, por sua formação.
Poucos conseguem se aproximar dela e menos ainda o fazem sem certo temor.
Uma e outra coisa são inevitáveis no exercício da Presidência.
Mas é aí que as diferenças entre ela e Lula são mais intensas e, pelo zelo do mando, a Presidenta não tem permitido que ambos funcionem de forma complementar.
Lula é o conversador, o cativante, o orador ou interlocutor que deixa platéia e ouvinte arrastados pela argumentação.
Dilma, talvez, não compreenda que seus inimigos – aliás, menos dela do que do Brasil e do povo brasileiro – praticam, pela mídia, a arte do convencimento todos os dias, pelo método possível a quem tem a hegemonia da comunicação: a criação do “senso-comum”.
É por isso que a mídia desprestigia e, agora, até criminaliza a política.
Porque é a política quem disputa com ela o convencimento e a construção de um pensamento coletivo.
É tarde, talvez inviavelmente tarde , para que Dilma entregue a Lula o comando da política.
E certamente passou o momento em que este poderia assumir sem reservas esta missão.
Mas cabe, como sempre coube, a Dilma eliminar estas reservas e pedir-lhe que o faça, assegurando-lhe que o governo seguirá o que a articulação política ainda puder compromissar, a esta altura.
Até porque – e isso não é um demérito – a maior fonte de legitimidade da presidência de Dilma é… o próprio Lula.
Quem terá de renunciar a muito, por isso, é o próprio Lula, porque se expõe diretamente às consequências de que não se reverta o processo de hoje e o governo Dilma naufrague.
Só ele, um sobrevivente político de tantas décadas, pode comandar este processo."
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