domingo, 4 de janeiro de 2015

2015: O FIM DA UTOPIA




Eu não tenho grande conhecimento sobre os países nórdicos nem do Japão, por exemplo. O que sei desses lugares, é o que me contam alguns amigos que moram por aquelas paragens, somado ao que vemos em uma notícia ou outra.

Por outro lado, sei muito mais como funciona o chamado "ocidente" (de acordo com a nomenclatura adotada pelos Estados Unidos e seus aliados). Neste lado, vejo que as coisas têm piorado substancialmente ao longo dos anos, em alguns aspectos.

A América Latina vem experimentando um crescimento social e econômico nunca antes visto. Tirar gente da pobreza, dando escola e emprego, não tem preço. Sendo assim, para o que pretendo falar hoje, vou retirar a maior parte de nosso querido continente, deixando apenas, para efeito de comparação, o Brasil, a Argentina. É que gostaria de falar sobre o rompimento do tecido social no mundo atual, coisa que eu tenho a impressão, vem acontecendo.

Dessa forma, coloco lado a lado o Brasil, a Argentina, os EUA e a Europa Ocidental. Coloco também a Rússia, com sua grande extensão eurasiana e claro, a China.

É que todos estes citados, têm sido vistos como atores importantes no quesito econômico. Exceção feita aos nossos irmãos argentinos, que aguentam uma pesada crise já há muitos anos, os Brics, Europa e os EUA indubitavelmente, direcionam o planeta hoje em dia, no que se refere à economia.

A Argentina, apesar de hoje em dia não ter um peso tão grande quando se fala em geopolítica e economia, sempre foi vista e tida como um país progressista. Talvez não seja coincidência serem argentinos o Che, o Papa, o Maradona e tantos outros. Talvez seja a água que sirvam nos pampas, eu não sei. Tem algo por lá que torna nossos amigos felizmente, sempre descontentes e querendo avançar.

Mesmo querendo avançar, ela parece cair em algumas armadilhas de vez em quando. A escolha de Raul Alfonsin e de Menem, por exemplo, mostram bem isso. Conscientemente esses mandatários jogaram seu povo à margem da história importante que sempre tiveram, e à margem do desenvolvimento.

Assim, vejo com tristeza que ao longo dos anos, encontrei em Buenos Aires, aquela que gosto de chamar de minha segunda cidade, um abandono e um desapego, sem precedentes. Em 2004 por exemplo, tão logo cessaram as retiradas de presidentes do poder, que nada faziam, eu praticamente não via pichação pelo lugar. As que existiam, eram com tons políticos, o que traduzia uma consciência coletiva muito forte. Independente do fato de os argentinos escolherem bem ou mal seus governantes, era inquestionável que ao menos, eles se preocupavam com isso. Hoje, se vê uma cidade muito mais largada, um país muito mais abandonado e sem esperança. Pobreza a América Latina sempre viveu. Antes porém, parecia que havia um norte, algo a perseguir. Hoje, a apatia tomou conta.

Também é assim no Brasil. Retiramos milhões da pobreza. Saímos da 15° economia para a sétima. Seremos superado pela Índia, claro, mas é inexorável afinal, eles tem 1 bilhão de consumidores. Só não se tornaram grandes até agora como a China, porque seus governantes são muito piores do que os nossos jamais foram.  Não obstante, o que vimos no Brasil este ano de eleição, foi um espetáculo bizarro através do qual aflorou o nazismo, o preconceito de classe, e a profunda incapacidade de nossas chamadas "elites", em conviverem com a democracia e com a inclusão social dos pobres. 

Ficou muito claro que os que gostam de se imaginar como "formadores de opinião", acham que o certo é que o Estado funcione somente para eles e para seu bem estar. Pouco se lixam para o resto. Mas vão à igreja todo domingo e acreditam piamente serem dignos de se chamarem "cristãos".

Nossos expoentes da classe média pra cima, adoram ter os EUA como referência em tudo, mas naquilo que importa, eles simplesmente se negam. Nos anos 30, através do New Deal e da metade da década de 40 pelo Plano Marshall, os EUA promoveram a maior inclusão social já vista neste planeta. É verdade que em relação à Europa o Plano Marshall cobrou um preço considerável, mas não há que se negar que a pobreza extrema foi erradicada e muita coisa mudou por lá.

Mas hoje os EUA e a Europa passam por um desânimo assustador. Após a crise de 2008, que foi causada pelo desleixo dos governantes americanos e europeus (em menor grau), não se viu uma vontade de realmente mudar. Obama ganhou a eleição empurrado pela vergonha nacional dos desmandos em seu sistema financeiro capitaneados por Bush filho, mas que vinham desde Ronald Reagan. Só que ao chegar ao poder, Obama percebeu que quem manda mesmo, não é ele, nem nunca foram os ocupantes da Casa Branca. Quem manda na América e por consequência em quase todo o mundo, são os lobbies das armas, do mercado financeiro e do petróleo. Eles tornam o mundo o seu quintal privado e o povo, quase nada vê, disso. É que para que o povo visse, ele precisaria ser informado, ter discernimento. Coisas impossíveis como é muito fácil de se notar, bastando para isso, dar uma breve passada nos livros de história.

Esta semana lí um artigo interessante em um site russo (evidentemente traduzido para o português lusitano). No artigo um professor havia pedido para seus alunos dizerem do que sentiam falta da antiga União Soviética. Sem disfarçar seu anticomunismo, o professor pretendia ao longo do texto, desqualificar algumas coisas do regime bolchevique, porém, também sendo saudosista quanto a outras. Já nos comentários ao artigo, é que se encontravam as verdadeiras pérolas. Neles, o povo de verdade falava o que sentia falta. Ele se mostrava saudosista não só da saúde, educação e do emprego que a todos alcançavam, mas também sentia falta a gleba, do espírito de comunidade, da vontade de evoluírem juntos e chegarem a algum lugar.

Na Rússia, o tecido social também se rompeu. A utopia acabou.

A China, o maior motor da economia mundial também vem observando uma corrida sem comparação pelo crescimento econômico. Nenhum outro lugar produz tantos bilionários por ano, nem tampouco, inclui tanta gente na classe média. Porém, o espírito de união descrito no Livro Vermelho parece que sequer é considerado atualmente. 

Incluir pelo consumo é importante e surte resultados imediatos. Não é necessário esperar décadas pela mudança de pensamento da população, coisa que nem sempre acontece. Porém, incluir pelo consumo transforma o humano em um prioritário egoísta. Quando ele se preocupa com sua família já é um avanço.

Como se muda tudo isso? Bem, a mudança tem que vir de cada um, rico ou pobre. Não é possível achar que chegaremos a algum lugar sendo movidos meramente pelo intuito do ter, e não do ser. É preciso resgatar aquela parte da cultura hippie que via sentido em alguma coisa, que compartilhava, que queria o fim da guerra.

Só que como bem apontaram alguns céticos posteriores aos anos 60, boa parte dos hippies viraram o cocho e os que puderam, se transformaram nos yuppies dos anos 80, que são os precursores e responsáveis em parte, pela atual alienação socioeconômica do planeta.

A mudança só virá quando nos educarmos. E essa educação não é aquela da escola. É aquela que se aprende em casa à mesa de jantar, com a tv devidamente desligada, ouvindo parábolas dos adultos. Mas para que esses adultos tenham o que passar a seus filhos, é essencial que eles também sejam educados.

Mas quem os educará se seus professores, se seus pais que deram duro na vida, na lavoura, no navio imigrante, já morreram?

É algo pra se pensar e ao fim, optar pela mudança individual. É um trabalho formiguinha, mas acho que vale a pena.
sugado do: http://anaispoliticos.blogspot.com.br/2015/01/2015-o-fim-da-utopia.html



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