"Quando seu corpo está com temperatura de 10 graus, sem atividade cerebral, batimento cardíaco e sangue - é um consenso que você está morto", diz o professor Peter Rhee, da universidade do Arizona. "Mas ainda assim, nós conseguimos trazer você de volta."
BBC Brasil
Rhee não está exagerando. Com Samuel Tisherman, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, ele comprovou que é possível manter o corpo em estado "suspenso" por horas.
Quando o problema no corpo do paciente é resolvido, o sangue volta a ser bombeado, reaquecendo lentamente o sistema. Quando a temperatura do sangue chega a 30 graus, o coração volta a bater.
Os animais submetidos a esse teste tiveram poucos efeitos colaterais ao despertar. "Eles ficam um pouco grogue por um tempo, mas no dia seguinte já estão bem", diz Tisherman.
Testes com humanos
Nesse caso, são pacientes cujos corações já pararam de bater e que não teriam mais chances de sobreviver, pelas técnicas convencionais. O médico americano teme que, por conta de manchetes imprecisas na imprensa, tenha-se criado uma ideia equivocada da sua pesquisa
"Quando as pessoas pensam no assunto, elas pensam em viajantes espaciais sendo congelados e acordados em Júpiter, ou no [personagem] Han Solo, de Guerra nas Estrelas", diz Tisherman.
"Isso não ajuda, porque é importante que as pessoas saibam que não se trata de ficção científica."
Os esforços para trazer as pessoas de volta do que se acredita ser a morte já existem há décadas. Tisherman começou seus estudos com Peter Safar, que nos anos 1960 criou a técnica pioneira de reanimação cardiorrespiratória. Com uma massagem cardíaca, é possível manter o coração artificialmente ativo por um tempo.
"Com a descoberta básica da reanimação cardiorrespiratória nós passamos a entender que as células do corpo demoram horas para atingir uma morte irreversível. Mesmo depois que você já virou um cadáver, ainda existe como resgatá-lo."
Recentemente, um homem de 40 anos no Texas sobreviveu por três horas e meia com a reanimação cardiorrespiratória.
Segundo os médicos de plantão, "todo mundo com dois braços foi chamado para se revezar fazendo as compressões no peito do paciente".
Durante a massagem, ele continuava consciente e conversando com os médicos, mas caso o procedimento fosse interrompido, ele morreria.
Eventualmente ele se recuperou e acabou sobrevivendo.
Esse caso de rescucitação ao longo de um grande período só funcionou porque não havia uma grande lesão no corpo do paciente. Mas isso é raro.
'Limbo'
O sangue é retirado e no seu lugar é colocada uma solução salina que ajuda a rebaixar a temperatura do corpo para algo como 10 a 15 graus Celsius.
Em experiência com porcos, cerca de 90% deles se recuperaram quando o sangue foi bombeado de volta. Cada animal passou mais de uma hora no "limbo".
"É uma das coisas mais incríveis de se observar: quando o coração começa a bater de novo", diz Rhee.
Após a operação, foram realizados vários testes para avaliar se houve dano cerebral. Aparentemente nenhum porco apresentou problemas.
O desafio de obter permissão para testar em humanos tem sido enorme até agora. Tisherman e Rhee finalmente receberam permissão para testar sua técnica com vítimas de tiros em Pittsburgh.
Um dos problemas a ser contornado é ver como os pacientes se adaptam com o sangue de outra pessoa. Os porcos receberam o próprio sangue congelado, mas no caso dos humanos será necessário usar o estoque do banco de sangues.
Se der certo, os médicos acreditam que a técnica poderia ser aplicada não só vítimas de lesões, como tiros e facadas, mas em pessoas com ataque cardíaco.
A pesquisa também está levando a outros estudos sobre qual seria a melhor solução química para reduzir o metabolismo do corpo humano."
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