Alessandro Carlucci, presidente da Natura: novo centro de distribuição no Pará e meta de “avançar mais pelo Brasil”
ADRIANA MATTOS | VALOR
Dois levantamentos finalizados nas últimas semanas pelas consultorias Data Popular e Kantar Worldpanel revelam dados inéditos sobre o fortalecimento da nova classe média brasileira.
As informações vão além da mensuração do já evidente poder econômico desse grupo. Ao cruzar os estudos, é possível verificar o volume de gastos da classe C por região geográfica. Fica claro que parte do dinheiro que migrou nesta década para a região Nordeste, onde essa classe média foi às compras, já se espalha para o Norte e o Centro-Oeste, com base em informações das últimas Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.
As informações vão além da mensuração do já evidente poder econômico desse grupo. Ao cruzar os estudos, é possível verificar o volume de gastos da classe C por região geográfica. Fica claro que parte do dinheiro que migrou nesta década para a região Nordeste, onde essa classe média foi às compras, já se espalha para o Norte e o Centro-Oeste, com base em informações das últimas Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.
De acordo com relatório do Data Popular intitulado “Diferenças e semelhanças nas regiões brasileiras”, nas categorias de bebidas e alimentação fora do lar e em casa, os gastos somados no Nordeste, Centro-Oeste e Norte cresceram 525,6% em oito anos, entre 2002 e 2010, atingindo R$ 64,7 bilhões no ano passado. No Sudeste, a velocidade de expansão foi de 315,4%.
Numa análise mais detalhada da divisão das classes sociais nos mais de 5 mil municípios brasileiros, a pequena União do Sul (MT), localizada no meio do Brasil, registra hoje a maior fatia da classe C na população total – 56,3% dos 3,7 mil habitantes estão nesse grupo. É um percentual superior à média nacional – no Brasil, 50% da população pertence à classe C. “Aqui não tem desemprego”, diz Enio Alves, secretário de governo de União do Sul. “Temos nove indústrias moveleiras e desde 2001 entramos mais pesado no agronegócio, com maior produção de arroz e soja”.
Entre as capitais, Florianópolis (SC) e Palmas (TO) empatam entre aquelas com mais brasileiros pertencentes à classe média emergente — 48% do total. “Está acontecendo uma reorganização dessa nova classe pelo país”, conta Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. “Pequenas cidades em desenvolvimento se beneficiaram dessa nova fase, ancorada nos ganhos da agricultura e na chegada de novas fábricas nessas regiões”.
Esses novos investimentos ganharam corpo em 2010 e outros foram anunciados este ano. Natura, Hypermarcas, Unilever e Procter & Gamble apresentaram ou concluíram, nos últimos seis meses, projetos em que há desmebramento da produção ou do sistema de distribuição pelo Brasil. O medo de perder vendas por não estar no lugar certo na hora certa acelerou a movimentação. “Ainda há muito espaço para as marcas se estabelecerem”, diz Christine Pereira, diretora da Kantar Worldpanel. “Como o consumo de muitas categorias ainda não se consolidou nessa nova classe formada fora do eixo Sul-Sudeste, ainda há o que fazer “.
Na região Norte, os investimentos fabris crescem aceleradamente. Em 2010 foram aprovados 255 projetos industriais e de serviços, no valor de US$ 4,4 bilhões – mais que o dobro do ano anterior. E não se tratam só de empresas de eletroeletrônicos, o forte na região. Foram para Manaus fabricantes de brinquedos, óculos, relógios e acessórios para carros.
Entre os grandes grupos, a Hypermarcas está reorganizando a sua área de logística e fortaleceu a operação no Centro-Oeste. Ela acaba de concluir a construção de um centro de distribuição em Anápolis (GO), com desembolsos de R$ 52 milhões, para a área de medicamentos sem prescrição. Em paralelo, aplicou R$ 59 milhões na ampliação da fábrica da Neo Química Genéricos na cidade goiana.
Maior empresa brasileira de vendas diretas, a Natura anunciou semanas atrás a entrada em operação de dois novos Centros de Distribuição, em Uberlândia (MG) e em Castanhal (PA). Ainda foi dobrada a capacidade da unidade de Canoas (RS). A empresa entende que será preciso olhar mais os novos espaços para ampliar a sua participação de mercado.
“Nós temos um ’share’ de 23%, mas nossas pesquisas mostram que quase 50% [dos consumidores] querem comprar itens da Natura. Se não temos um ’share’ ainda maior é porque, em parte, não estamos em todos os lugares que poderíamos estar”, disse Alessandro Carlucci, presidente da Natura, em entrevista sobre resultados da empresa. “Por isso uma das metas é avançarmos mais pelo Brasil.”
A Unilever, que produz Seda e Omo, está prestes a inaugurar a ampliação da unidade fabril de Igarassu (PE) que produzirá sabão em pó e atenderá Norte e Nordeste. “Investimos R$ 85 milhões no projeto e estamos praticamente prontos para entrar em operação”, disse ao Valor Luiz Carlos Dutra, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Unilever.
Além disso, lançamentos têm deixado de ser, cada vez mais, focados apenas em São Paulo e Rio. A Reckitt-Benckiser disse na semana passada que venderá o seu novo Vanish nacionalmente. “Decidimos fazer mídia nacional do produto e criar mercadorias que teriam mais aceitação por lá, como as embalagens do Vanish em sachês”, disse Fernanda Belfort, gerente de marketing de produtos de limpeza da Reckitt.
blog do Luis Favre
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