Cardeal André Vingt-Trois, presidente da Conferência Episcopal francesa, criticou a "instrumentalização" de um ser humano "em benefício de um outro."
«Esta criança é um instrumento para tentar salvar outra… Vamos transformar-nos em instrumentos?», questiona o cardeal André Vingt-Trois Reuters |
O nascimento do primeiro 'bebé-medicamento' em França, que poderá salvar um dos irmãos que sofre de uma grave doença de sangue hereditária (beta-talassemia), foi condenado pelo Cardeal André Vingt-Trois, provocando uma polémica no país.
"Esta criança é um instrumento para tentar salvar outra... Vamos transformar-nos em instrumentos? Sou totalmente contra isso, contra a instrumentalização de um ser humano em benefício de um outro", declarou o presidente da Conferência Episcopal francesa.
O 'bebé-medicamento', chamado "bebé da dupla esperança" pelos médicos, nasceu a 26 de Janeiro, num hospital da região de Paris, através da fecundação in vitro e, segundo explicaram os especialistas, após um "duplo diagnóstico pré-implantação" que permite a escolha dos embriões.
A notícia do nascimento da criança foi divulgada na noite passada. Os médicos explicaram já esta manhã que o 'bebé-medicamento' é imune à doença de sangue de que sofrem os irmãos, tendo uma compatibilidade de tecidos que permitirá uma transplantação de sangue do cordão umbilical e salvar um deles.
"Igreja deve refletir antes de condenar"
"A Igreja deve refletir antes de condenar porque damos assim dignidade e felicidade a uma família que vai ter agora um novo filho saudável, ele nasceu em perfeita saúde, bem como a possibilidade de salvar outro", disse o professor René Frydman, um dos especialistas que dirigiu o processo de nascimento autorizado pela lei francesa desde 2004.
"A Igreja esteve sempre em atraso nestes assuntos, desde a contracepção ao preservativo, e faria melhor em ajudar-nos a salvar vidas e dar felicidade às pessoas", acrescentou o professor.
Os pais (de origem turca) do 'bebé-medicamento' deram-lhe o nome de Umut-Talha ("Nossa Esperança") e vivem agora com a criança na sua residência, no sul da França.
Trata-se do primeiro nascimento de um 'bebé da dupla esperança' em França, depois dos primeiros casos verificados, desde há uma dezena de anos, nos Estados Unidos, e de três mais recentes - dois na Bélgica, em 2005, e outro em Espanha, em 2008.
Daniel Ribeiro, correspondente em Paris (www.expresso.pt)
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