É, aquela mesma, sediada no Estado da Cidade do Vaticano, o qual constitui a menor teocracia do mundo, e chefiada por um sujeito que se considera o representante de um deus na Terra, o Papa.
De antemão já deixo claro que, a priori, nada tenho contra os representantes e/ou os fiéis dessa instituição.
Contudo tenho, sem dúvida, muitas ressalvas a várias atitudes e declarações de alguns sacerdotes, cito o exemplo das imbecilidades escritas pelo padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, presidente da Associação Pró-Vida de Anápolis, que escreveu o preconceituoso e discriminatório texto “Desconstrução da heteronormatividade (para não dizer destruição da família)”, um artigo carregado de falácias devidamente combatidas no texto “O show de falácias do padre “pró-vida” Luiz da Cruz“. Outro exemplo que posso citar é o texto cretino de um tal padre Robson de Oliveira Pereira, intitulado “A religião nos revela quem somos“, cujo teor é, no mínimo, prepotente ao afirmar que “junto à falta de fé está a marca indelével da perda de identidade, da desintegração emocional e por fim da deturpação da própria realidade. A pessoa incrédula fica perdida em um espaço sem limite e sem forma.”. Ora, quanta pretensão! Como bem disse a Rayssa Gon em sua nota ao post do Bule Voador “Segundo padre, ateus sofrem de ‘desintegração emocional‘”, “esse é o preconceito mais disseminado sobre os ateus (…) muitas pessoas realmente não entendem que é possível construir significados para a própria existência sem recorrer a um deus“, e o texto desse tal padre Robson só colabora com esse pensamento estreito.
Mas é claro que há atitudes louváveis. Para ficar em uma bem recente, lembro do bispoManuel Edmilson Cruz, de Limoeiro do Oeste-CE, que recusou a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, do Senado Federal, em protesto ao aumento dos vencimentos dos parlamentares no fim do ano passado.
A ICAR é ainda cúmplice do preconceito, da discriminação e do retrocesso no que se refere a sexualidade humana, em especial o direito dos homossexuais. Leia, por exemplo, o item 6 “Não pecar contra a castidade” do artigo intitulado “Os Dez Mandamentos” do site “Catequese católica” (cuidado! link com música de fundo irritante e ridícula), se tiver estômago, terá a oportunidade de ler trechos como: “Há ainda, dentro deste mesmo pecado, coisas como a masturbação, a fornicação (sexo antes do casamento religioso), a pornografia (exibição pública dos atos sexuais), a prostituição, o estupro e a homossexualidade.”. Vejam só, tirando o estupro (que é obviamente algo hediondo, porém sistematicamente acobertado pela ICAR quando praticado por seus sacerdotes), o que há de mal nas outras coisas da lista? Não são apenas atitudes de cunho pessoal, e como tais devem ser ponderadas individualmente sem a intermediação de padres, bispos e cardeais? Não há como negar que a ICAR tem a fama (justíssima) de querer impedir avanços sociais em áreas como, por exemplo, a união de casais homossexuais.
Entretanto, nem tudo está perdido.
E claro, não posso deixar de citar o grupo “Católicas pelo direito de decidir“, as quais, apesar de se declararem católicas, vão na contramão do que diz o poder central da ICAR em assuntos como a luta pelo direito das mulheres ao aborto legal e seguro.
Então, caro leitor, antes de bater no peito e dizer com orgulho “Eu sou Católico Apostólico Romano”, pare, pense (não dói… muito), reflita e me diga:
- Você tem algo contra a união de casais homossexuais ou contra a homossexualidade em si?
- Você é contra a utilização de métodos contraceptivos e/ou de prevenção às DST’s?
- Você considera o sexo antes do casamento “errado”?
- Você acha o divórcio “errado”? E o casamento de pessoas divorciadas, você também é contra?
- Você é contra todo e qualquer caso de aborto, inclusive aqueles atualmente permitidos em nosso legislação (como no caso de estupro)?
- Você considera a masturbação “errada”?
- Você é contra as pesquisas com células-tronco embrionárias?
- Você considera que o papa é “infalível” e possui “supremo poder sobre toda a igreja“, inclusive em matéria de costumes?
E por último, uma pergunta final:
- Após refletir sobre esses pontos (e sobre muitos outros) você ainda se considera “Católico Apostólico Romano” com orgulho?
.
Nota do autor: Como alguns leitores comentaram no link original, obviamente que grande parte do que está escrito acima não é exclusividade da Igreja Católica Apostólica Romana, e pode ser usado para outras denominações. Na verdade, decidi focar nessa instituição simplesmente porque o que me levou a escrever este texto foi a notícia do Estadão que linkei acima, a qual se restringiu ao catolicismo. E continuo dizendo: prefiro 1000 moderados contraditórios a 1 fundamentalista coerente.
Autor: Alex Rodrigues
Fonte: No Lado Escuro da Lua
by:Bule bvoador
Nenhum comentário:
Postar um comentário