Por Marcelo Salles, 14.10.2009
No texto anterior tentei mostrar que as corporações de mídia estão inabilitadas a praticar Jornalismo. Basicamente por dois motivos: em virtude de sua constituição enquanto empresa capitalista, que busca o lucro acima de tudo, e de sua profícua relação societária com as classes exploradoras.
Para fazer Jornalismo essas premissas não podem existir. Jornalismo, para nós, só pode ser praticado a partir dos princípios contidos no juramento profissional:
“A Comunicação é uma missão social…”
> Leia aqui o artigo “É preciso reconceituar o jornalismo”.(13/10/09)
No texto anterior também procurei explicar o poder da mídia na sociedade em que vivemos, devido à sua imensa capacidade de produzir e reproduzir modos de sentir, agir e viver. Com seu avanço tecnológico, que a faz praticamente onipresente, a mídia se torna, nesse sentido, uma instituição mais poderosa que outras, como Família, Universidade, Forças Armadas, Igreja e etc.
Por tudo isso, terminei o texto dizendo que era preciso destruir as corporações de mídia e, em seu lugar, construir instituições Jornalísticas. Assim, vamos equipar a sociedade com os instrumentos capazes de fortalecer a democracia e aniquilar aqueles que produzem e sustentam a violência e a desigualdade.
Nesse texto reafirmo o que disse no primeiro artigo, e vou além: apresento sugestões de como podemos avançar.
Em primeiro lugar, os Poderes Executivos devem adotar medidas concretas em três linhas básicas:
1) fazer cumprir a legislação vigente;
2) impulsionar a criação e manutenção de iniciativas Jornalísticas;
3) cortar a destinação de verbas públicas para corporações de mídia.
No primeiro caso, o governo federal deve executar dívidas das corporações com o povo, sobretudo através da execução de dívidas como FGTS e INSS, que são milionárias. Hoje estima-se que as corporações de mídia devem ao povo cerca de 10 bilhões de reais.
Ainda no tocante ao cumprimento das leis, o governo deve fazer valer os artigos da Constituição Federal de 1988, que vetam monopólios e oligopólios; garantem a existência de empresas de comunicação públicas e estatais, além das iniciativas privadas; exigem a produção e exibição de programas regionais; priorizam as programações educacionais e culturais.
Segundo ponto: os governos federal, estaduais e municipais, como gestores da coisa pública, têm a obrigação de fomentar iniciativas Jornalísticas fundadas no respeito ao público, exatamente como descrito no juramento acima citado. Pelo mesmo motivo, os governos devem interromper o fluxo de dinheiro público para as corporações de mídia. Muitas das vezes, isso pode ser feito gradualmente, de modo que os recursos públicos sejam transferidos, aos poucos, para as iniciativas Jornalísticas. No entanto, a verba pode ser cortada de uma só vez, como fez o governador do Paraná, Roberto Requião. Tudo vai depender da correlação de forças e das reais intenções da equipe de governo.
Além das tarefas concernentes ao poder público, há que sublinhar a importância de outras instâncias da sociedade. Universidades, escolas, associações de classe, sindicatos, igrejas, movimentos sociais, parlamentares, juízes, defensores e promotores progressistas e todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa devem se engajar na denúncia das distorções praticadas pelas corporações de mídia e, complementarmente, na produção de material Jornalístico.
Ao denunciar as mentiras e manipulações publicamente, as corporações de mídia serão enfraquecidas. Elas perderão força sempre que seus dogmas forem questionados. Isso precisa ser feito porque, apesar de hipocrisia ser flagrante, muitos ainda acreditam naquilo que é divulgado por elas.
Por outro lado, no momento em que as diversas instâncias da sociedade produzem material Jornalístico, ao público em geral é franqueada a possibilidade de comparação com as informações divulgadas pelas corporações. Isso mostrará, aos que tiveram acesso ao fato narrado, quem está preocupado em contar a verdadeira história.
Outra tarefa dessas instâncias é exigir, de forma organizada e sistemática, que os governantes cumpram seu dever. Protestos, manifestações, abaixo-assinados devem se estender para este objetivo; os alvos devem ser os governantes e as corporações de mídia.
Hoje existem algumas iniciativas esparsas nesse sentido, que devem ser aprimoradas. Mas ainda é pouco. Outras muitas ainda podem ser criadas, e entre elas uma, em especial, deve ser cultivada com carinho: a união das diversas iniciativas Jornalísticas existentes. Essa união virá a fortalecer o movimento de democratização da sociedade, contribuindo para a destruição das corporações de mídia e para a criação de instituições Jornalísticas sólidas, capazes de enfrentar a violência e a desigualdade fomentadas pelo sistema capitalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário