Por André Araújo, via GGN
O CAPITALISMO QUE TEMOS - O prezado comentarista J.C. Pompeu, a propósito de meu post de ontem sobre a Lava Jato travando a economia, disse que eu aqui defendo o "capitalismo arcaico brasileiro". Pode ser, mas é o capitalismo que temos, não há outro na prateleira para por no lugar.
Um dos defeitos profundos do caráter brasileiro é subestimar o País, nossas coisas e nossas realizações. Tudo lá fora é melhor, segundo essa visão tão arraigada entre brasileiros, especialmente de São Paulo.
É um grave erro de avaliação. O "capitalismo de compadrio" de fato existe no Brasil. Mas existe em MUITO MAIOR escala na China, na Índia, em toda a Ásia, na Rússia, no Oriente Médio, no México, em toda a América Latina.
Existe também com outra roupagem nos Estados Unidos. A diferença lá é a clareza, a explicitude das relações entre empresas e governo, nada é escondido, tudo é a luz do dia, mas as relações do Estado com as empresas não diferem muito do que ocorre aqui. As grandes companhias de armamentos tem fantásticos lobbies em Washington para influenciar o Congresso a alocar verbas no orçamento para seus projetos de novas armas, as doações de campanha são de bilhões mas é tudo legal, usam o modelo do Political Action Committees, onde se doa para comitês pró-causas, sem vincular com candidatos, mas esse dinheiro acaba bancando campanhas que beneficiam um determinado candidato que apoia aquela causa, o valor que as empresas podem doar não tem limite.
O capitalismo só funciona em boas relações com o Poder, não há capitalismo neutro e limpinho em nenhum lugar do planeta, nós não somos tão arcaicos, talvez mais provincianos, com roupa caipira, mas os métodos não mudam muito e tem lugares onde as coisas são muito piores, como na China e na Rússia, o poder do Estado e o poder das grandes corporações se confundem, a mesma coisa na Coreia do Sul, no Japão é mais sutil mas os grupos "pesados" Mitsui, Mitsubishi, Fuji, Sumitomo, Toyota, tem relações profundas com o MITI, o Ministério do Comércio Exterior japonês, operam em conjunto.
Na França a promiscuidade entre Estado e capitalismo é total há séculos, a moda é coordenada pelo Comité Colbert, o armamento é coordenado pela DGA do Ministério da Defesa. Na Inglaterra, em um passado não tão longínquo a Royal Navy era cobradora dos bancos ingleses, os navios da esquadra apontavam canhões para resgatar dívidas, como fizeram em Alexandria em 1882 e na Venezuela no começo do Século XX. Não fazem mais isso mas o espírito é esse, o governo ajuda as empresas sempre, porque as empresas são consideradas sócias do Estado e sustentáculo da Nação.
Somos inferiores, sim, em reconhecer o interesse nacional a ponto de queimar numa fogueira da inquisição empresas brasileiras de projeção internacional e agora o maior banco de investimento dos BRICS, o BTG Pactual, que se preparava para resgatar com fundos do banco oficial japonês de fomento o programa de sondas para o pré-sal, o Brasil receberia do Japão mais de US$6 bilhões de dinheiro novo, projeto que levou um ano para preparar, liquidado com a prisão do CEO do banco, sob aplausos da Globo e do Senado brasileiro, suicidas de vocação, esquecendo que quando afunda o navio morrem os marinheiros e também o comandante. Arcaicos são os justiceiros que destroçaram ativos de valor incalculável, o maior dos quais é a imagem do País e de suas empresas no exterior, colocar a sujeira na janela não melhora a reputação da família.
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