FÁBIO DE OLIVEIRA RIBEIRO
Essa é uma história é banal. Por mais de uma década a Sabesp distribuiu fartamente seus lucros na Bolsa de New York, conferindo aos tucanos paulistas algum prestígio internacional. Os primeiros alertas de crise hídrica foram dados em 2003, 2004, novamente em 2009. Mas com o aval do governador a companhia seguiu distribuindo lucros em NY e evitando fazer investimentos para diversificar e aumentar a captação de água para os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo.
Em 2014, ano eleitoral, a água deveria começar a ser racionada e não foi. O governador candidato à reeleição preferiu fazer de conta que o problema não existia para não prejudicar sua augusta imagem. A imprensa, que o odeia o PT menos que à população que conferiu 4 mandatos presidenciais ao partido e elegeu o Prefeito de São Paulo, protegeu o governador e até o transformou numa espécie de santo não canonizado.
O mal que foi silenciosamente plantado será inevitavelmente colhido aos gritos. A maior metrópole da América Latina está às portas de uma verdadeira hecatombe. Não há tempo hábil para obras, a água da Billings é poluída demais para ser distribuídas. Em pleno período de chuvas os reservatórios que abastecem a metrópole estão vazios. Nos próximos meses, quando a estiagem chegar, São Paulo será um deserto sobre dezenas de riachos e córregos sujos que foram canalizados, cortado por dois rios caudalosos extremamente poluídos.
Vamos fugir deste lugar, baby!
Vamos fugir
Tô cansado de esperar
Que você me carregue
A letra da música do grupo Skank é muito apropriada para descrever o tom ameno, descompromissado e até irônico utilizado pela imprensa para encobrir os momentos que antecedem um genocídio. Em alguns meses, milhões terão que fugir da Grande São Paulo? Fugir como, para onde? É impossível deslocar tanta gente ao mesmo tempo com a rapidez necessária. Onde colocar todos os fugitivos da seca produzida com lucro pela Sabesp? Os russos levaram 2 semanas para evacuar a pequena cidade de Pripyat. Quantos paulistas morrerão se o governo levar todo este tempo para esvaziar uma cidade sem água para consumo de milhões de pessoas?
Neste momento de crise, a únicas palavras que podem descrever são as que foram proferidas por Ao ouvir as declarações do Presidente do STF lembrei imediatamente das palavras de Jacques Sémelin em seu livro PURIFICAR E DESTRUIR, Difel, 2009:
“Em princípio, o papel do Estado é o de proteger os cidadãos, como explicam inúmeros autores de ciência política. Com a concordância dos indivíduos – que aceitam, então obedecer -, o Estado lhes concede segurança. Mas nos casos estudados, ele passou a não dar mais essa garantia a todos os cidadãos. Ele se tornou assassino e protetor de assassinos. Quem haveria de poder, então, conter a violência?”
Segundo o autor francês os genocídios praticados na Alemanha (contra os judeus), Ruanda (contra os tutsis) e Servia (contra kosovares e croatas) foram fomentados pelos discursos incendiários dos líderes políticos (Hitler, Habyarimana e Milosevic). Mas em todos os casos o discurso sacrificial só conseguiu alcançar seu propósito em razão da propaganda.
"A manipulação das emoções, ocupa, dessa forma, um lugar central na instauração de tais poderes, mas o que vai sustentar e desenvolver esse estado emocional é a propaganda. Ela, necessariamente, acompanha e reforça o estabelecimento desses sistemas políticos."
Um pouco mais adiante o estudioso explica que:
"O princípio básico é sempre o mesmo: fabricar emoção. Entenda-se: suscitar o medo, a desconfiança, o ressentimento e, assim, provocar, como reação, a vigilância, o orgulho, a vingança. Um aparelho de propaganda é, antes de tudo, uma máquina de fabricar emoção pública, a exemplo dos líderes, a quem ela reveza e amplifica o que dizem. É trabalhando com a emoção que ela almeja alcançar a adesão do público: 'Não tem escolha', é o que ela diz 'temos, todos, que nos defender dessa gente. É uma questão de identidade: nossa sobrevivência está em jogo.' E é por onde a propaganda ataca o pensamento: 'Diante da ameaça comum, devemos nos mostrar mais fortes e afirmar o poder da nossa identidade.' A propaganda procura impor a todos uma interpretação do mundo, apresentada como 'vital', a partir do grupo a que ela pertence. Dessa forma, o envolvimento emocional do publico, rapidamente, se estende ao envolvimento ideológico."
O PSDB não fez propaganda de que desejava realizar um genocídio na Grande São Paulo. O que fez, e isto é uma verdade factual, foi muita propaganda para disfarçar a crise hídrica, permitir a inércia governamental e possibilitar à Sabesp privatizada seguir distribuindo fartamente seus lucros em NY. A intensa propaganda tucana para blindar Alckmin e a Sabesp, porém, produziu o mesmo efeito que a propaganda nazista, hutu e sérvia. Um genocídio ronda a Grande São Paulo e os tucanos, mesmo não tendo afirmado "mataremos os pobres paulistas de sede"conseguirão fazer isto de uma maneira impensável: com ajuda lucrativa de uma imprensa privada que coloca o interesse público abaixo do interesse dos acionistas de uma companhia irresponsável e de um governador sorridente e, no entanto, desumano.
Além de proteger Geraldo Alckmin e a Sabesp privatizada, a imprensa paulista não faz outra coisa senão "...suscitar o medo, a desconfiança, o ressentimento e, assim, provocar, como reação, a vigilância, o orgulho, a vingança" contra o governo federal que veio em socorro dos paulistas com verbas para obras emergenciais (que infelizmente não poderão ser executadas em alguns meses). As denuncias de corrupção na Petrobras afetam menos o cotidiano dos paulistas do que a falta d’água e, paradoxalmente, ocupam mais espaço na mídia paulista.
Obrigado à enfrentar o imponderável, o povo paulista clamará por uma intervenção federal. Como as tropas brasileiras poderão atuar num Estado em que a imprensa rejeita a soberania nacional em seu território e fomenta constantemente o separatismo? Esta, porém, não é a única pergunta.
Quando as rebeliões violentas começarem a pipocar na periferia da Grande São Paulo e convergirem para o Palácio dos Bandeirantes, quem protegerá os direitos políticos dos brasileiros de uma matança que pode estar sendo planejada pelo comando da PM? Estamos montando uma “operação de guerra” diz o governador e seus assessores mais próximos? Guerra contra quem? Contra o povo que foi criminosamente deixado sem água apesar do que consta na Constituição Federal? E o Exército brasileiro? Vai entrar nesta guerra para defender os lucros dos acionistas da Sabesp derramando o sangue dos paulistas indefesos diante de um governo absolutista e obscurantista?
Sanguessugado do GGN, via http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2015/02/sao-paulo-beira-de-uma-crise-de-nervos.html
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