Lula Miranda, Brasil 247
Abandonamos a política.
Relegamos o exercício pleno da cidadania a um terceiro, quarto plano em nossas vidas. Terceirizamos, também, a cidadania.
E eles, os canalhas, sorrateiramente, ocuparam esse vasto vazio e omissão.
Já dominam o Congresso – a Câmara e o Senado. Dominam também as Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas.
Um político canalha, do tipo "celebridade midiática", consegue eleger-se deputado federal com um milhão e meio de votos e leva com ele, para a Câmara dos Deputados, mais três ou quatro desqualificados, canalhas como ele. Políticos nanicos de partidos nanicos, compostos por homens nanicos.
A quem representam essas Vossas Excelências? Ou seria mais apropriado dizer "Vossas Excrescências"?
Mas ficamos mais ou menos tranquilos e impávidos. Afinal, a culpa não é nossa; a culpa é sempre "deles". A culpa é sempre do outro, distante, incerto, improvável.
Eles, os canalhas, dominam os grandes grupos de comunicação. Eles têm seus capatazes e capachos na grande mídia remunerados a peso de ouro. Corteses, elegem a dedo a sua corte fiel.
Eles, os canalhas, controlam também boa parte dos sindicatos e das centrais sindicais – ainda exercem, com estarrecedora desenvoltura, o velho e anacrônico sindicalismo de negócios, negociatas e, claro, resultados.
Os canalhas quase arruinaram a Petrobras! O metrô de São Paulo! O Estado de São Paulo!
Sim, os canalhas estão em São Paulo, em Brasília. No Rio de Janeiro, em Goiás. No Maranhão, Alagoas ou Bahia. No partido "X", "Y" e "Z". Os canalhas, tal qual uma praga, estão espalhados por todo o país.
Os canalhas fazem parte daquele 1% da população que detém mais de 90% da riqueza da nação.
Os canalhas são poucos, mas parecem multidão.
O suor, sangue e lágrimas de homens e mulheres humildes, homens e mulheres do povo, moradores das periferias das grandes cidades, crentes e obedientes a Deus, e tementes a patrões exploradores, azeitam as engrenagens da máquina. Pobres cordeiros dopados tangidos pelos canalhas, adestrados pela submissão da desesperança, da ignorância e do medo. Mais valia.
Mais valia que a esperança e a coragem, de uma nova e insurgente elite proletária, por fim se libertasse das amarras da fé e das mentiras dos políticos, e de alguns pastores, nas religiões e na grande imprensa, que castram, ferram a fogo, adestram e tangem as multidões de cordeiros dopados rumo ao abate de uma vida infeliz e sem sentido.
Mas valia o império dos justos e dos honestos, unidos numa utópica cooperativa, do que os oligopólios e feudos dos canalhas.
Mais valia."
Nenhum comentário:
Postar um comentário