BBC Brasil
Os primeiros usuários de computador no Brasil - onde a informática gozava de regras que previam reserva de mercado e dificultava importações - estarão familiarizados com a série TK, clones dos computadores ZX, criador pelo empreendedor britânico.
Já naquela época, o inventor previa que os softwares poderiam pôr fim ao "longo monopólio" das criaturas feitas de matéria orgânica como as formas de vida mais inteligentes da Terra.
Parece portanto pertinente perguntar o que ele acha da recente advertência feita por Stephen Hawking de que a inteligência artificial pode levar ao fim da raça humana.
"Uma vez que você começa a fazer máquinas que rivalizam com ou que superam a inteligência humana, vai ser muito difícil para nós sobrevivermos. Então, concordo totalmente com ele", responde.
"Mas não acredito que seja necessariamente algo ruim. É apenas inevitável."
A questão seguinte é sobre se os humanos deveriam começar a se precaver de alguma forma.
"Não acho que dê pra fazer muito a respeito disso. Mas, de qualquer jeito, não é uma coisa iminente e por isso não devemos ficar nos preocupando com isso."
Caixa de Pandora
"No começo, pode ser freado", disse, à época. "Alguns vão tentar interromper esse processo, mas ele vai acontecer de qualquer jeito. A tampa da caixa de Pandora está começando a ser aberta."
Nos anos 1980, 'Sir' Clive, como é conhecido desde que recebeu o título de Cavaleiro da Corte britânica, em 1983, já tinha feito sucesso com computadores pessoais como o ZX80 e o ZX81, os primeiros computadores pessoais em massa produzidos na Grã-Bretanha. No Brasil, eles inspiraram o TK82 e TK85, respectivamente.
Mas foi o ZX Spectrum que realmente se tornou um fenômeno - para os brasileiros, o TK90X, um clone desenvolvido em 1985 pela companhia paulista Microdigital Eletronica.
"Antes dos produtos idealizados por Sir Clive, os computadores pessoais eram apenas kits com um teclado numérico e algumas LEDs", diz Mike Talbot, criador de dezenas de games.
Talbot disse que o segredo do computador eram suas possibilidades infinitas de programação, limitadas apenas pela imaginação e conhecimento técnico de cada programador.
Os críticos qualificavam os modelos de Sir Clive de estranhos e diziam que os gráficos nas telas misturavam as cores. O criador admitia que seus computadores eram um tanto esquisitos, mas argumentava que os consumidores não se importavam com isso.
Na época, chegou a dizer que seus modelos superariam os PCs da IBM. Hoje, ele admite que seu Spectrum não tinha chances reais de conseguir esse feito.
Sem e-mail
Mas ele já fez previsão semelhante antes, com outros produtos, e ela não se concretizou.
Não seria melhor se voltasse para a computação e usasse todo seu conhecimento em uma área em que foi bem sucedido?
"Olha, talvez eu volte para essa área, sim", responde, pouco convencido. "Talvez."
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