quinta-feira, 15 de maio de 2014

O Futebol de esquerda e o de direita


No início da noite desta sexta-feira, topei sem querer, mais uma vez, com o ator Dan Stulbach, corinthianíssimo. Desta vez, ele saía do Teatro Eva Herz para a confusão da Livraria Cultura.

Conversa de um minuto e meio. Ele assegura que o livro que carrego é muito bom.

- Você já leu? - pergunto, surpreso.

- Não, mas sei que é bom. Vou comprar.

Então lhe conto rapidamente sobre o pedaço de capítulo que li, o quarto, cujo título é "Luz e trevas". Ele se interessa mais ainda. Creio que vai ler mesmo. Tchau. Até logo.


Enfim, repito aqui a dica. A obra é "Os números do jogo - Por que tudo que você sabe sobre futebol está errado", de Chris Anderson e David Sally.
O tal capítulo se abre com uma frase de Pep Guardiola, ainda no Barça:

- Nós jogamos futebol de esquerda. Tudo mundo faz tudo.

Na sequência, oferece-se uma degustação da pedagogia de um dos mais politizados e controversos dos técnicos de futebol.

""A rica e ilustre história do futebol está repleta de filósofos, pregadores e prosélitos, mas poucos tinham um físico tão adequado para o papel de visionário quanto César Luis Menotti, o fumante inveterado de cabelos desgrenhados que treinou a seleção argentina de 1978.

Menotti, conhecido como "El Flaco", "O Magro", tinha uma personalidade impressionante que combinava com sua aparência singular.

Comunista inveterado, ele assumiu a seleção argentina no momento em que o país era governado por uma brutal junta militar de direita.

Menotti era, no que diz respeito à carreira, um pragmático a sua maneira. Ele ficaria ofendido, porém, se essa definição fosse aplicada a suas ideias sobre futebol. No campo, Menotti era um purista.

A mensagem dele era simples: o futebol é uma questão de marcar um, dois ou três gols a mais que o adversário. Ele não estava preocupado em tomar a dianteira no placar e depois jogar fechado.

Já vimos que o futebol, o futebol moderno, é uma questão de equilíbrio. Mas, para Menotti, não havia tons de cinza. Havia o ataque, estonteante e empolgante, e havia a defesa, cínica e triste. Havia luz e havia trevas.

Menotti tratava essa diferença em termos ideológicos. Ele falava em futebol de esquerda e futebol de direita.

Para Menotti, o comunista, o futebol de esquerda era positivo, marcado pela criatividade e pela alegria. O futebol de direita era negativo, medroso, definido pela obsessão com o resultado.

- O futebol de direita insinua que a vida é uma batalha - afirmava. - Exige sacrifício; temos de nos tornar de aço e vencer do jeito que der, é obedecer e agir; é aquilo que os poderosos exigem dos jogadores; é assim que surgem os imbecis, os idiotas úteis que aceitam o sistema.""

Se em tudo há política, esse trecho do livro sugere uma reflexão importante, que faz sentido especialmente para alguns de nós, corinthianos de infantaria, já saturados do "conservadorismo" defensivista do técnico Tite.

Afinal, o time que saiu da várzea, no início do século passado, somente se tornou grande por conta da ousadia, por jogar para frente, por criar protagonismo, por representar a ira santa dos povos segregados e explorados.

O Corinthians somente virou Corinthians por ser, nessa categorização, um autêntico representante da esquerda, estufador implacável das redes adversárias, muitas vezes véus de metas guardadas pelos arrogantes filhos da elite.

Hoje, no milionário time do ataque quase inexistente, e do fanatismo pelos placares mínimos, somos o quê? Afinal, a esquadra de Tite honra a origem da casa?

Texto: Walter Falceta Jr. no 
http://resistenciacorinthiana.blogspot.com.br/2013/10/o-futebol-de-esquerda-e-o-de-direita.html

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